Por: Diego El Khouri
Mais uma artista interessante nas páginas virtuais desse blog: Mariana Valle. Conheci essa grande escritora no sarau chamado Pelada Poética que acontece toda quarta feira na praia do Leme no Rio de Janeiro (RJ); sarau criado e organizado pelo ator e poeta Eduardo Tornaghi. Abaixo a entrevista que a poetisa me concedeu:
1) Como
foi seu início na poesia?
Com 12 anos, apaixonada por um amiguinho de escola, escrevi meu
primeiro poema. Aí no final do poema, lembrei que tinha um dever de casa de
Português para entregar no dia seguinte, no colégio. Devia fazer um texto sobre
algo pelo qual eu estivesse esperando. Aí acrescentei a estrofe: "Eu
te espero / Não sei se irá chegar/ Tentarei te esquecer,/ Mas enquanto não
consigo/ Continuarei a te amar". Aí quando entreguei o dever, a professora
adorou, a família também e todos me incentivaram a continuar escrevendo. E
continuo até hoje.
2)
Livros e autores que te marcaram profundamente.
Nelson Rodrigues e Bukowski (os de prosa) são alguns de meus preferidos.
Os livros de Érico Veríssimo foram os que me fizeram começar a gostar de ler. E
Machado de Assis influenciaram muito meu jeito de escrever, inclusive na minha
época de jornalista na TV Globo. Na poesia, curto muito o estilo do Leminski e
de alguns amigos escritores, mas confesso que gosto mais de ler prosa do que
poesia, apesar de escrever mais poesia do que prosa.
3) Você
se utiliza de algum método para criar? De que forma surgem seus poemas?
Não sou nada metódica. Os poemas surgem das mais variadas maneiras. Na
maioria das vezes, escrevo muito rápido. O poema começa a pipocar na minha
cabeça e em poucos minutos o escrevo todo. Edito muito pouco meus poemas.
Apenas quando não estou muito inspirada é que acontece de eu começar a escrever
e parar antes de finalizá-lo e, dias depois, pegar aquela parte e desenvolvê-la
até se transformar num poema completo. Me inspiro não só com o que estou
sentindo, mas com palavras que leio, que ouço ou imagens poéticas que surgem na
minha cabeça. Não preciso estar sentindo aquilo para escrever. O que me inspira
é o prazer de criar.
4) Como é
sua relação com outros escritores no Brasil e como vê a cena cultural
atualmente?
Conheço pessoalmente muitos escritores que admiro.Outros conheço só de
Facebook, mas também admiro. E alguns são meus amigos pessoais, porque conheci
nos saraus e/ou em outros lugares e desenvolvi uma amizade real. Acho que o Rio
de Janeiro tem muitas opções boas de saraus e muito bons escritores. Eu é que,
ultimamente, por conta do meu trabalho no hotel, quase não tenho freqüentado os
eventos, mas pretendo voltar aos poucos.
5) Você é
uma grande freqüentadora de diversos saraus no Rio de Janeiro. Quais os
artistas da nova safra que mais lhe agrada?
Gosto muito da Marla de Queiroz, dos poemas do meu amigo e eterno mestre
Cairo Trindade, curto os haikais da Yassu Noguchi, os poemas e textos do Marcos
Bassini, os textos da Caró Lago, da Alice Souto, da Thamar de Araújo, da Flávia
Cortes, do Jocê Rodrigues, do Vinícius Antunes, dentre outros. Também gosto
muito de ler os contos do Julio Damasio, do Thiago Mourão e da Julia Mac Dowell.
6) Como
foi participar do evento S.U.B.A. comemorando os 75 anos do Vidigal? Nos
fale mais o que seria esse evento.
O evento SUBA é muito legal. Conheço alguns dos organizadores e
fiquei muito feliz de participar mais de uma vez, porque todas as apresentações
artísticas que vi lá foram muito interessantes. De alto nível. E participar dos
75 anos do Vidigal foi melhor ainda, porque foi uma festa que contou com mais
moradores da Comunidade do que as outras edições do evento e eu pude conhecer
vários artistas da comunidade. Acredito no poder transformador da arte e da
cultura.
7) Como
andam os incentivos e a abertura de espaços para as formas de expressões
artísticas no Rio de Janeiro?
Espaço tem bastante, incentivo financeiro já é outra história.
Acho que o governo investe muito pouco na cultura e na educação.
8) Ainda
continuar acreditando na literatura?
Eu acredito na literatura. Acredito no poder transformador da
literatura para quem lê e para quem escreve, mas gostaria de poder acreditar na
literatura como meio de sustento para mim e tantos outros escritores também.
Ainda não perdi a esperança. Quem sabe um dia eu ainda chego lá?
9) Qual
seria a melhor forma de morrer?
Dormindo.
10) Uma poesia pra
finalizar.
Confissão
Como reprimir o que se sente
Quando a emoção lateja
Nas veias, no sangue, na carne?
E a correnteza do sentimento
Arde e treme, perene?
Como não dizer com a boca
O que a pele sem roupa
Tantas vezes já confessou?
Como disfarçar esse calor?
Teu corpo me alucina,
Teu sêmen, minha sina,
O meu êxtase, teu mel.
E nessa babel de gritos e sussurros,
De corpos derretidos no escuro,
Eu me perco e me acho,
E me afasto do resto do mundo,
Em eternos segundos
Em que estou toda em você,
Meu maior prazer.
(Mariana Valle)
Quando a emoção lateja
Nas veias, no sangue, na carne?
E a correnteza do sentimento
Arde e treme, perene?
Como não dizer com a boca
O que a pele sem roupa
Tantas vezes já confessou?
Como disfarçar esse calor?
Teu corpo me alucina,
Teu sêmen, minha sina,
O meu êxtase, teu mel.
E nessa babel de gritos e sussurros,
De corpos derretidos no escuro,
Eu me perco e me acho,
E me afasto do resto do mundo,
Em eternos segundos
Em que estou toda em você,
Meu maior prazer.
(Mariana Valle)
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