quinta-feira, 30 de outubro de 2025

O escritor do submundo: um papo com Fabio da Silva Barbosa, o cronista do século sinistro

 Por: Diego El Khouri



Fiz mais uma entrevista com o camarada Fabio da Silva Barbosa — escritor, poeta e educador social. Idealizador do clássico maldito zine Reboco Caído, que há mais de uma década segue firme na contramão do sistema, Fabio foi também o cofundador da Editora Merda na Mão, junto comigo.

Hoje ele não está mais à frente da editora, mas sempre será parte integral e irremediável da Merda na Mão — e quero frisar isso com força. Está atravessando uma nova fase da vida: há pouco se mudou para Foz do Iguaçu (PR) e se afastou um pouco dos meios literários — mas não por completo. É mais fácil encontrar Fabio nos botecos sujos da vida, cercado por moradores de rua, noiados, putas e marginais de toda espécie — gente invisível para essa sociedade escrota e perversa. Esse cara é de verdade. Nunca se alinhou ao status quo, nem ao conforto fácil. Prefere cuspir nas conveniências do que trair o que acredita.

Nascido em 24 de julho de 1975, em Niterói (RJ), viveu por muitos anos em Porto Alegre, onde desenvolveu seu trabalho como educador social — sempre entrelaçando vida, poesia e resistência. Conheci o Fabio pelo correio, através do grande poeta Glauco Mattoso. Ele me enviou o zine O Berro, feito junto com o finado Alexandre Mendes e o camarada Winter Bastos (que ainda edita o zine até hoje). Em dezembro de 2010, fui até Niterói conhecer esse maluco pessoalmente — foi uma estadia insana, repleta de porres e conversas com ele, Eduardo Marinho, Wagner Teixeira, Winter Bastos e outros tantos. Um dia, pretendo transformar tudo isso em literatura — porque certas vivências merecem virar palavra.

Agora, com ele recém-chegado a Foz, trocamos umas ideias pela internet e surgiu a proposta dessa entrevista. Muita gente queria saber o que o Fabio anda aprontando, mas ele não curte interagir com esse mundo podre das redes antissociais. Ainda assim, foi convencido de que era importante deixar um registro. Como ele não aceita dar entrevista pra qualquer um — principalmente agora — me pediu pra fazer. E, claro, aceitei na hora.

Essa conversa marca também a volta das entrevistas escritas aqui no blog. Depois de um tempo focando em conversas audiovisuais no canal do YouTubodigestivo da Merda na Mão (https://www.youtube.com/c/EditoraMerdanaM%C3%A3o) , senti falta do formato escrito — mais íntimo, mais direto. Recomeçar com o cara que fundou comigo essa editora, contra tudo e contra todos, é uma honra.

Poucos entendem o que é dedicar a vida à arte sem visar grana. Esse mano entende. Nos conectamos nessa guerrilha cultural.
Sem mais delongas — bora pro papo.

1 - Essa é a quarta entrevista que faço contigo. Te conheço há mais de uma década. Mergulhei fundo na tua obra literária — como leitor e também como parceiro. Fiz algumas capas de livro, participamos juntos do Coletivo Zine ( https://coletivozine.blogspot.com/ ) e, em abril de 2020, criamos a Editora Merda na Mão ( https://editoramerdanamao.blogspot.com/). De lá pra cá, o que mudou na tua literatura e na forma de criar arte?


Tudo muda o tempo todo para mim — às vezes de um minuto para outro. É como um eterno surto. Cada vez mais inadequado para o mundo que se apresenta, vou ficando ainda mais rancoroso, raivoso,  pessimista, impaciente... e, como sempre, me mantenho fiel em registrar todos os meus sentimentos e visão da atualidade nas minhas produções, que não considero literatura, poesia ou arte. O que são então? Não sei e muito menos me preocupo em meditar sobre isso. Não julgo importante classificar minha produção como isso ou aquilo. Cada vez mais as coisas vão perdendo a importância em um mundo tão sacal e desinteressante, com pessoas chatas e repetitivas que reproduzem o que há de pior no podre ser humano, se adaptando a toda a artificialidade e banalidade destes tempos vazios e sem sentido. Isso tudo é o que mudou em mim e , logo, na minha produção, mas ao mesmo tempo é o que permanece, pois nunca foi muito diferente disso. A coisa só vai se confirmando e, com isso, revoltando. 





2 - Muita gente te conhece como escritor, mas você também desenvolve, de forma alternativa, um trabalho potente com fotografia. Fala um pouco dessa tua viagem criativa.

Sempre tive um relacionamento com a fotografia, assim como com o áudio visual e outras formas de expressão. Embora atualmente a questão com a fotografia esteja menos ativa que já foi, ainda preservo um certo espaço para ela. A Coluna Ponto Cego, que sai de forma aperiódica no site do ColetiveArtes (https://coletivearts.blogspot.com/2025/04/ponto-cego_02015661078.html), é onde atualmente exponho com maior frequência essa faceta do meu trabalho. A coisa do fazer de forma aperiódica é como prefiro produzir atualmente. Nada de compromisso. Faço quando quero ou quando dá. Isso tem a ver também com o tal do meu momento atual que se reflete na minha produção.



* Exposição Virtual: "Escute o que as ruas gritam", por Fabio da Silva Barbosa: https://editoramerdanamao.blogspot.com/2023/08/exposicao-virtual-escute-o-que-as-ruas.html


3 - Você está afastado da internet há anos. Nem nas redes antissociais te encontram mais. A Merda na Mão é praticamente o teu único contato com o mundo externo. Mesmo assim, o zine impresso — e é bom frisar isso — Reboco Caído continua circulando bem e sendo material de relevância na cena underground mundial, presente em vários acervos pelo mundo. Volta e meia, em alguma feira literária, quando estou expondo os materiais da editora, aparece algum maluco ou maluca empolgado dizendo que admira esse trampo. A que se deve isso em tempos tão sombrios e medíocres?

Pois é... Acabei falando um pouco disso na resposta anterior porque uma coisa interfere diretamente na outra. Daí vou definindo meu estilo de vida cada vez mais como misantropo e solitário por opção e gosto. Claro que quando falo da humanidade, estou falando de um modo geral, vendo como um todo, mas existem as exceções. As exceções sempre existem e ainda bem que existem, pois são elas que normalmente se opõem a regra, promovendo a resistência e nunca se adequando para tirar proveito do que não presta ou para ter maior conforto. 

Uma das coisas que tem o meu maior desprezo, não tenho uma gota de respeito se quer, são as redes sociais e tudo mais que envolve a farsa da evolução tecnológica. Responsabilizo inclusive ferramentas como o WhatsApp pela morte da comunicação e da cultura.... Além de muitas outras coisas. Nenhum dos benefícios que todo esse lixo canceroso tecnológico trás , compensa o estrago devastador, que funciona como verdadeira bomba atômica, promovendo a extinção intelectual. Mas a pergunta não era sobre isso. Voltemos ao ponto. Cara, não saberia dizer ao certo o porque do Reboco Caído ter este tipo de mérito. Talvez por seu espírito contestador, questionador...? Talvez por causa de sua longevidade? Vai saber.




4 - Pra você, o que significou criar a Editora Merda na Mão comigo, em plena pandemia, na ascensão do fascismo, ambos desempregados, e com a ideia de publicar os impublicáveis — sem visar lucro ou tapinha nas costas?

A Editora Merda na Mão foi a sequência de parcerias entre produções que se cruzaram em vários momentos e de diversas formas. Foi resultado de uma conversa que já tivemos várias vezes sobre editoras  parasitas que buscam sugar o autor, que já vive na dificuldade por ter um ofício que não é valorizado em uma sociedade que investe na ignorância e na alienação para manter o controle e fazer que todos aceitem a terrível realidade vigente. É claro que algo surgido de uma parceria tão longeva e producente só poderia ser muito significativo e de importância fuderosa para mim . Gerou um feto blasfemo muito interessante e que contribui de forma ativa para manter as raízes de uma cena que não conta com apoio ou espaço, a não ser dos que realmente fazem parte dela.



5 - A Merda na Mão segue viva, apesar dos percalços pra quem não se curva ao sistema, diferente desses ratos de esgoto que desfilam por aí fingindo subversão. Estamos num momento de reconstrução depois de pesadas porradas. Você não está mais à frente da EMNM, mas continua contribuindo com o projeto. Inclusive, participou ao lado da Kapivara Kartonera da Feira Agroecológica e Cultural da UNILA, em Foz do Iguaçu (PR) (https://www.youtube.com/shorts/X9PYq8gY5rc) — um evento semanal que mistura alimentação agroecológica, artesanato, cultura latino-americana e trocas sociais. Fala sobre esse evento e sobre tua experiência recente de ter se mudado pra essa cidade.


A vinda para Foz se fez em um momento que precisava me afastar um pouco da rotina louca e elétrica que estava vivendo em Porto Alegre. Comecei a pesquisar algumas possibilidades, a escolher um novo lugar no mapa para fixar residência, começar tudo de novo e ter novas experiências. Comentando sobre com outro velho amigo e parceiro, o Eduardo Marinho, ele me sugeriu Foz do Iguaçu. Dei uma pesquisada sobre e me pareceu um lugar completamente diferente, com uma proposta outra e casava bem com minha necessidade de mudança não só física e geográfica. Quebraria com a rotina e o fluxo. Realmente foi uma ótima dica e era exatamente onde precisava estar neste momento para me reorganizar e refletir sobre certos pontos. Será uma estadia curta, porém estes mais de três meses que estou por aqui estão sendo intensos. Parece que já moro aqui há anos de tantas experiências passadas e fatos ocorridos. O momento agora está sendo esse contato com uma galera que produz pela região e tá na luta, na resistência, fazendo a diferença. O Mano Zeu é poeta, zineiro, DJ e ainda toca a editora cartonera dele - Fica até uma dica cara uma próxima entrevista neste blog. O cara tem o que dizer. Eu já tinha trocado umas ideias com ele antes de vir para Foz, mas chegando aqui me envolvi em mil e umas pela cidade, como já comentei, e ainda um forte e inesquecível convívio com a Ciudad del Este, no Paraguai (Só essa parte já daria um livro bem volumoso) e acabei por só agora reestabelecer este contato. Marcamos uma expo na feirinha da UNILA, onde ele gentilmente dividiu a branquinha comigo e me apresentou aos que estavam por lá. Nesse dia conheci, além da rapaziada que faz acontecer, alguns professores muito interessantes e diferenciados e a coordenadora Aline que me convidou para a feira que rolou no dia seguinte em outro campus da UNILA e marcamos uma fala sobre publicações independentes que irá rolar na semana seguinte a que estou respondendo essa entrevista.


Impressos de Guerrilha  A Revolução das Editoras Alternativas: 




6 - Um dos projetos da EMNM que ainda trazem forte tua assinatura são os quadrinhos em andamento — “Frida Carla – A advogada mais ousada do Brasil” e “Carniça: A Apologia da Destruição – Substâncias ilícitas, crimes e outras especiarias” — ambos com roteiro teu e desenhos meus. Devido às dificuldades da luta pela sobrevivência, às psicoses diversas, às incompreensões e aos recursos parcos, ainda não saiu — mas estou trabalhando incansavelmente nisso, contra tudo e contra todos. Fala sobre esses trabalhos e qual a expectativa em torno deles (se é que há alguma).

Expectativas não tenho com nada. Se uma pessoa ler, 10 ou nenhuma, pra mim dá na mesma. Faço o que quero, quando quero e porque quero. O que é do outro, não me pertence. O que tenho é a convicção de que serão quadrinhos únicos e importantes. Coisa fundamental de existir. E isso não é arrogância ou prepotência. É um fato. A biografia da Frida trata, além de uma história de vida, de resistência, sobre a formação da militante de uma classe trabalhadora fortemente marginalizada por nossa sociedade hipócrita e retrógrada. O Carniça é parte integrante do universo do Filósofo da Maconha. Quem adquiriu o Filósofo, sabe muito bem que este quadrinho chegou mostrando a que veio. Só não espere mais do mesmo e nem que a coisa vai parar por aí, pois o projeto tem outros capítulos por vir em mente.



7 - O programa do YouTubodigestivo, intitulado “Ânsia Compulsiva Esteticamente Inviável”, com seus 58 episódios, é um clássico incontestável da EMNM. Gravado e idealizado por você, mostra tua poesia em estado bruto: o improviso. Você pega o celular, caminha pelas ruas, grava, me envia o vídeo pelo WhatsApp; eu edito sem cortar nada e posto. Fala sobre essa outra viagem.

Esse programa realmente ficou muito bom. Tem uns episódios que estão entre meus preferidos, como o que estou pelo centro de Porto Alegre recitando meus improvisos. É tudo feito na hora. Vejo o cenário que me trás alguma inspiração e começo. A coisa do chão, dos pés caminhando... Depois foram surgindo algumas variações, experimentações e formatos que foram testados, formas diferentes. Mas tudo sempre espontâneo, aproveitando o que surge no momento para tirar o coelho da cartola caótica. Tiveram alguns personagens muito bons que apareceram em certas edições também. É o sujeito perdido nos labirintos urbanos que vez por outra encontra alguma figura. São muitas interpretações. Não gosto de falar sobre a minha interpretação para não atrapalhar a de quem assiste. 





8 - A tua coluna Arquivos Explícitos, publicada no blog Metal Reunion Zinehttps://metalreunionzine.blogspot.com/), vai sair em formato de livro por esse selo. A capa foi riscada à mão livre pelo camarada Alexandre Chakal. Fala sobre esse livro.

Sim. Antes do final do ano já vai estar disponível. Acredito que, no mais tardar, até meados do próximo mês. Mas é aquilo... Se tratando de produções feitas de forma independente por  indivíduos que tem de lutar pela sobrevivência e ainda se envolvem em mil projetos ao mesmo tempo, nunca se sabe. Mas o que é garantido é que serão reunidos todo o material que saiu até então na coluna. Tiveram algumas modificações aqui e ali, mas o espírito continua o mesmo. Áspero como a sola do pé de um andarilho errante.




9 - O novo álbum do grupo de rap combativo Ktarse será lançado em breve. Eu fiz a arte do encarte e você recita um poema em uma das faixas. Em 2022, publicamos o livro do Rodrigo Ktarse, Relatos de um Rapero Ateu de Quebrada (https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2022/07/12/lancamento-relatos-de-um-rapero-ateu-de-quebrada-de-rodrigo-ktarse/), e agora vem mais essa parceria. Quero saber tua opinião sobre esse novo trampo.

Na verdade, a ideia é usar os três improvisos que fiz especialmente para o trabalho entre algumas das faixas. Mas aguardemos para ver o resultado. As vezes a coisa muda de rumo no decorrer da construção da obra. Sobre essa parceria que, como você mesmo falou, não vem de hoje, posso dizer que é uma grande satisfação, uma verdadeira realização estar evolvido em projetos com essa galera que realmente acredita no que diz e vive de acordo.



10 - No meio desse atolamento social, dessa correria insana toda, vamos lançar novos sons (ou ruídos) do War Brain, nosso projeto de Noise Experimental Performático Poético. É outro lado da tua criação que muita gente desconhece. Comenta sobre esse trabalho — desde as construções e lançamentos anteriores até as novas ideias que estão pra surgir.


Pois então ... Inicialmente seria o nome de uma banda de Thrash Metal que pensei em formar com amigos na adolescência. Décadas depois o nome ressurge como o ideal para este projeto. Inicialmente era um power trio, pois contávamos com a participação de Murilo Pereira Dias, o Murilouco, no baixo. Essa primeira fase está registrada no EP que foi lançado, até o momento, apenas no canal do YoutuboDigestivo da EMNM ( https://www.youtube.com/c/EditoraMerdanaM%C3%A3o). Esse EP ficou muito bom e leva o nome do estilo sonoro do projeto - Noise Experimental Performático Poético (https://www.youtube.com/watch?v=eTVKefPGSHM&list=PLEBhB9jtXmRp_QS7OsU9vyTzpTHamXg8B) . Vale destacar ainda a participação da Anonimous Creature, Holanda, projeto do insano Danihell Slaughter. Agora, já em formato dueto, estamos começando a produzir o segundo álbum, que já tem dois ruídos prontos e mais dois já elaborados mentalmente e que em breve também estarão concretizados. Vou até adiantar que um destes dois sons que vão ser organizados em breve, tem a participação de uma galera de peso, entre eles Panda Reis, batera da Oligarquia. É um som que aproveitará uma barulheira pensada para outro projeto que acabou não rolando. Esse vai ter o nome que seria o deste projeto que morreu antes de nascer - Fusão Periférica - e tratará a questão da saúde mental.



11 - Você é um educador social super reconhecido. Quais os desafios de trabalhar nessa área? Que dica daria pra quem deseja seguir esse caminho? E de que forma o escritor entra nessa equação?

É um trabalho maravilhoso e de muita responsabilidade. Você intervém diretamente na vida das pessoas, ao mesmo tempo que também não consegue estar imune ao processo, porque você também é uma pessoa. Então ao mesmo tempo que você muda a vida e a percepção do outro, você também se modifica,  acontece uma troca.  Mas isso é para os que dão o mergulho no processo, se a pessoa realmente se identifica e se entrega a função. Não é um trabalho para qualquer um, nem uma coisa qualquer que está sendo feita. Para ser bom nisso, você tem de ter um certo talento e uma vida que tenha lhe dado o tempero especial para lidar com os desafios que a função exige. Talvez aí a coisa esbarre no escrever. Você pode aprender a escrever, mas se não tiver certo talento para isso, não tiver um recheio apropriado, não vai fazer a diferença naquele meio. Outro ponto em comum é que quanto mais você mergulha nesse universo e pratica, melhor você fica. Quando descobri essa área foi meio que por acaso. Estava fazendo qualquer coisa para arrumar um troco. Meus primeiros tempos em Porto Alegre foram de fazer qualquer coisa para sobreviver. Fui colher uva na serra, ajudava no armazém bar do Branco Oliveira, trabalhava em esteira de produção de fábrica.... Nessa época eu estava trabalhando na fabrica de material esportivo do Andrezeira, grande parceiro. Tinha aparecido uma oportunidade na parte digital da afiliada da Globo local e obviamente não quis. Preferi permanecer na fábrica. Todo mundo achou uma loucura, até porque a fábrica passava por seus momentos finais. Eu era o único funcionário na época, mas nunca deixaria de trabalhar com o André para contribuir com o jornalismo canalha dos grandes meios de comunicação. Até que um dia, no armazém do Branco conheci um cara que viu em mim o potencial de educador e me encaminhou para um processo seletivo dentro dessa área. Daí já se vão mais de uma década que não me vejo fazendo outra coisa na vida. Foi o primeiro emprego que fez algum sentido. Não era só para ganhar salário. Fiquei maravilhado com aquele universo. Mas isso falando tudo de forma bem resumida. Foi tudo uma jornada até me formar no educador que sou hoje. É um aprendizado que não acaba nunca e o momento onde dedico minha melhor porção.

12 -  Espero que você nunca desista da tua arte. Ela inflama mentes e corpos há mais de duas décadas. Fala sobre outros projetos que estão por vir e deixa um recado pra essa galera que te lê, que cruza comigo por aí — em eventos literários, shows de rock, bueiros e esgotos — e perguntam ansiosos sobre seus novos projetos literários, livros, zines, poemas...

Os principais são os que falamos até então. War Brain, continuar a escrever a saga do Filósofo e seus comparsas, divulgar os trabalhos que já estão caminhando para sair (Arquivos Explícitos e a Frida) e por aí vai. Tem as colunas que escrevo para o Metal Reunion e para o ColetiveArtes para onde estou mandando farto material, já pensando  naqueles momentos em que me tranco no casulo já ter bastante coisa no arsenal dos responsáveis por estes espaços e as colunas não ficarem com os hiatos que sempre ficam quando acontecem estes momentos trevosos para mim, quando o fechamento total surge no poço sem fim. Existe também a ideia de relançar materiais esgotados e que não saíram em formato físico . Para isso terei de ler todo o material, para pensar em uma segunda edição no capricho, que justifique existir. Tem também a retomada de projetos que ficaram parados, como o livro A Pecadora Feliz, que relata a difícil estrada percorrida por uma mulher desse a sua infância até a fase adulta. Tem também um projeto ainda mais antigo que precisa se materializar. É uma história infantil para adultos. Seria algo que começou para ser um material para crianças, mas que o sombrio acabou tomando conta e se tornou inadequado para os mais novos terem a compreensão do objetivo. Existem ainda outras ideias, mas vamos com calma, pois já tem bastante para fazer e tudo demanda tempo. As ideias são muitas. 

13 - Pra fechar, uma poesia.

Pensei em fazer uma especial para o momento falando sobre o recém sofrido acidente de trabalho enquanto fazia um bico para tirar algumas moedas. O atendimento precário e desinteressado no serviço público e a sensação de estar com a cabeça costurada e doendo. Mas existe um escrito que produzi faz pouco tempo e que é muito precioso para mim não só porque marcou minha ressurreição depois de longo tempo sem escrever nada ou por vezes até saindo alguma coisinha, mas nada realmente no nível que gosto.... Não só por ser algo diferente de tudo que tinha feito até então. .. Mas principalmente por falar sobre alguém que é muito especial na minha vida e desperta meu melhor lado. Alguém que por mais que tente, nunca conseguiria explicar o quanto sua presença é importante na minha vida e na qualidade do meu viver. O nome desse escrito é... Tairine.

T antos momentos únicos 
A alimentando a memória e o amor
I nfinito como seu beijo
R eal como seu toque 
I mpossivel esquecer
N ão há nada pra entender
E agora é só você





terça-feira, 27 de julho de 2021

Clécia Oliveira e a Fio Cultural Produções

 Por: Diego El Khouri

Imersa na múltiplas linguagens da arte, Clécia Oliveira desenha seu caminho: uma trajetória de dedicação e entrega, poesia  e estudos, inspiração e transpiração. Escritora, produtora, jornalista, revisora, em  seu trabalho transparece a imagem de uma pessoa que está realmente afim de colaborar de forma positiva na arte e na cultura do país. Ano passado a entrevistei no canal do youtube da Editora Merda na Mão https://www.youtube.com/watch?v=fNU7HKFVwVw no programa Deu Merda, edição número 24 (hoje o programa já ultrapassou o número 60). Clécia é uma agitadora cultural e uma escritora intensa. Idealizadora do Fio Cultural Produções e tantos outros projetos. Então vamos ler/ouvir o que essa mineira que hoje reside no Rio de Janeiro tem a dizer.



1) Como se iniciou   seu   gosto pela poesia e quais  escritores te influenciaram nesse princípio?

O meu gosto pela poesia começou na infância. Eu me lembro de ter contato logo que aprendi a ler. Eu achava bonito e tentava escrever algo parecido, principalmente pensando nas rimas...rs. Uma história que me lembro é que, quando eu tinha 8 anos, fizemos um livro na 2ª série primária. Foi marcante porque, além de ter vários trechos meus na narrativa, ao final, foram selecionados poemas para compor o livro, inclusive, meus. Desde então, continuei a escrever, até mesmo durante as aulas que eu não estava muito interessada.

Sobre influências, acho difícil nomear porque tive contato com muitos autores que me chamaram a atenção, como Manuel Bandeira, Drummond, Mário Quintana, Fernando Pessoa, Machado de Assis, os beatniks, Edgar A. Poe e por aí vai. Quando jovem, passei a ter mais contato com autoras e me encantei com Cecília Meireles e Cora Coralina, por exemplo. E não paro de conhecer obras e autorxs interessantes. No meu caso, acho que as influências ficam um pouco no subconsciente. 


2) O que te motiva  a criar?

Acho que é por não aguentar que as ideias fiquem somente na minha cabeça. Acabo transformando, materializando em algo, que pode ser na literatura e em outras artes e produções. É uma forma de desabafo, crítica, de expressar sentimentos, ideias, observações, de mostrar análises sobre algo do cotidiano ou uma viagem, fantasia, etc.



3) Fale  sobre a   Fio Cultural  Produções e os eventos artísticos que promove através dela.

A Fio Cultural atua com base no tripé Cultura-Educação-Comunicação, não deixando de manter a Poesia como fio condutor. Realiza diversas atividades culturais e artísticas, produções editoriais, audiovisuais e outros projetos. Também oferece serviços nas áreas de letras, comunicação e produção. Um dos projetos próprios mais marcantes da Fio Cultural é o Sarau FioMultiCultural, que completa 6 anos em 2021. É um evento multilinguagens onde se encontram manifestações e apresentações em várias linguagens e formatos. Assim como outras atividades da Fio, busca promover reflexões, encontros e trocas entre artes, artistas, produtores, comunicadores, educadores...




4)  Como anda a cena artística e cultural no Rio de Janeiro?

Sempre foi muito efervescente, mas, durante a pandemia, está sofrendo drasticamente, assim como em várias regiões. No entanto, vejo muitos agentes culturais/artistas se reinventando com a tecnologia e promovendo atividades on-line, também continuam produzindo suas obras e encontrando outros meios de divulgá-las e de serem remunerados. No entanto, muitos estão passando grandes dificuldades. E está longe de ser o que era a cena artística e cultural. De fato, pelo menos, o movimento continua e a arte e os artistas continuam tentando exercer seus papéis e mostrar seus valores e o quanto são resistentes. 

 

5) Em Julho  de   2019 você colaborou na  construção do I  Encontro de Saraus Rio na OFF  FLIP 2019, em Paraty. Fale sobre esta iniciativa.

A ideia veio do desejo de promover encontros, trocas, interlocuções. Há saraus muito importantes e diversificados no Rio de Janeiro, que reúnem artistas que atuam com estilos, técnicas, temas, enfim, com características distintas, o que torna a produção contemporânea muito rica e diversificada na cidad


e. São muitas vozes. A OFFflip, que é um evento paralelo à Flip e que ocorre na mesma época deste evento internacional, é uma forma de conectar artistas e apresentar ao público os que não têm tanta oportunidade de estar na grande mídia e nos grandes eventos. E a proposta do Encontro de Saraus veio para agregar muito a este evento paralelo de resistência. 


6)  Fale sobre  o  Sarau D4 - Arte Erótica.

O D4 nasceu de uma conversa entre amigos que produziam obras eróticas e já haviam realizado eventos com o tema. No caso, eu, Vinni Corrêa e Ricardo Mendes. Fizemos o D4, em 2019, e tivemos uma adesão bastante significativa. Foi sucesso de público e, entre os participantes, tivemos diversidade de gêneros, de linguagens, etc. Foi um evento muito rico, com qualidade artística e que também trouxe reflexões sobre censura,  mulher x erotismo, liberdade, moralidade, respeito. A repercussão foi interessante.

Poucos meses depois, eu e outros dois amigos, Paulo Kajal e Sérgio Gramático Jr., buscamos meios de realizar um sarau erótico com título Dark Room Poético. Também foi multilinguagens. A diferença é que, de fato, teve um “dark room”, mas com toda segurança e respeito. Em janeiro de 2021, a Fio Cultural lançou o livro/coletânea “Fio Arte Erótica”, em homenagem aos dois saraus, e realizou live/sarau de lançamento.



7) Através da UFRJ você  trabalhou no Museu Nacional. O museu era um reconhecido centro de pesquisa em história natural  e antropológica  na América Latina.  Em 2  de setembro  de 2018, logo após o encerramento  do  horário  de   visitação,  um incêndio de grandes proporções atingiu os três andares do prédio do Museu, destruindo uma quantidade imensa de peças. O que representa um acidente desses para a  memória  nacional?

Na época do incêndio, eu estava gravando um documentário sobre o Museu, via Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ (FCC), onde eu trabalhava. O Museu é vinculado ao Fórum. Além disso, eu cursava uma Pós-graduação em Acessibilidade Cultural para Pessoas com Deficiências e os grupos de trabalho da Pós estavam preparando projetos para acessibilizar espaços do Museu. Infelizmente, fomos interrompidos, mas passamos a realizar os trabalhos e assistir às aulas no Museu Histórico Nacional. E, em anos anteriores, trabalhei em produções coletivas de unidades da UFRJ que envolviam o Museu.

O Museu Nacional ainda é um reconhecido centro de pesquisa e está se reerguendo. Um acidente desses mostra o quanto a cultura, educação, ciência e instituições públicas não são assistidas adequadamente. Há perdas irrecuperáveis e irreparáveis nesse caso. Muita memória se foi mesmo. Porém, muitos pesquisadores ativos estão procurando recuperar informações e prosseguir, como possível, com as pesquisas. E há, também, planejamento de reiniciar as atividades culturais, principalmente após o fim da pandemia. Não é possível ter peças perdidas de volta, mas sim conteúdos e aquisição de novas peças por meio de doações, além das resgatadas e das que não estavam no palácio na ocasião do incêndio. E, daqui para frente, espero que os trabalhos continuem e que o Museu Nacional seja reconstruído, mesmo que demore. E observo que isto está em andamento.



8) Em tempos de pandemia, como a arte deve se colocar para ocupar espaços  sem sair de casa e sem  cair no  mais do mesmo?

A palavra é Reinvenção. Já estou vendo artistas continuarem suas produções em suas casas, em seus ateliês, estúdios, etc. A forma de apresentar as produções é que muda. E muitos estão buscando as maneiras possíveis no momento e com adesão do público que necessita consumir arte. O diferencial também é o ponto que cada artista toca e como o faz. Estamos vivendo no mesmo caos, mas é possível extrair muitas coisas diferentes disso tudo. E o melhor: é um momento de bastante reflexão, autoconhecimento pessoal e artístico e, ainda, de desafio em manter a arte e a cultura em movimento. 



9) A arte  vai sobreviver ao autoritarismo?

Claro! Tempos de autoritarismo vêm de longa data. E arte não só sobreviveu como torna as situações extremas objeto das próprias produções. A arte continua resistindo e mostrando seu papel.


10) Uma frase.

Não seja mais um comum num mundo de mortos.


9) Dica de leitura(s)

Leiam os poetas contemporâneos! Há grandes artistas e obras que precisam ser conhecidas e consumidas. 



10) Um poema de  sua   autoria


Alecrim


Um doce sabor nos lábios me recorreu

Ao lembrar-me de dias espectrais 

Entre beijos, bebidas, abraços e comidas

Música farta e cantos dos amigos.

Dançávamos sem olhar para os passos

Qualquer tropeço era engraçado

Escrevíamos poesia sem tantos pêsames

E nos abraçávamos todos os meses.


Dormir é descansar para acordar para a vida 

Que continua...

É abraçar o próprio travesseiro e ficar mais esperto na rua.

Os dias de verão serão onde quisermos

Nas salas ou nas praias criadas por nós. 


E como o teatro não para!

Textos correm as vontades de expressão e interação

E se lançam em todos os lugares

Enquanto nos apresentamos pelos celulares.


O pé de alecrim está crescendo

E diz a cada dia que segue o oposto 

Do mundo que está morrendo.

A indignação veio sem autorização

Mas a humanidade não se recolherá 

Ainda veremos a vida florir com novos valores

E seremos cheiro de alecrim

Quando as ruas puderem nos recepcionar

E se encherem de verdade (s).


***Clécia Oliveira – Rio de Janeiro, RJ

É poeta, produtora cultural/audiovisual/editorial, jornalista e revisora. Coordena e produz as atividades da Fio Cultural Produções. Alguns dos projetos que atua: Sarau FioMultiCultural (6 anos), FioZines, Cine Fio, produção de livros e documentários. Atualmente, em 2021, está em andamento o projeto “Eu, na Pandemia” – livro multilinguagens, com vários autores, que será o primeiro passo para eventos relacionados ao tema.



terça-feira, 7 de abril de 2020

O OLHAR ARTÍSTICO DA MAYTE GUIMARÃES

Por: Diego El Khouri 

Conheci Mayte através  das conexões artísticas.  Logo depois soube que ela é sobrinha  do mais respeitado e engajado artista plástico goiano vivo: o Amaury Menezes.  Porém, Mayte criou dentro do seu universo artístico uma linguagem própria.  Abaixo  o bate-papo com essa artista das artes visuais e da literatura:



*Para conhecer a obra da artista eis o  link do seu site:

Instagram: 


1- Você  é filha de artista e sobrinha do Amaury Menezes, um dos mais respeitados artistas plásticos  de Goiás. De que forma eles foram importantes para que você mergulhasse nessa linguagem artística e desenvolvesse seu próprio trabalho?

De fato, eles foram os que mais me influenciaram a querer ser artista. Meu pai porque cresci o vendo trabalhar em seu ateliê, onde hoje é meu local de fazer arte, o Maytelier. Já meu tio-avô Amaury, passei a infância e parte da adolescência convivendo muito com ele, às vezes ia com meu pai em seu ateliê, ia às vernissages, sempre vendo sua arte e de amigos dele. De certa forma ele me influenciou na paixão pela aquarela, na qual é um mestre. 
Nos primórdios do meu aprendizado em desenho, um amigo que é artista plástico, Guilherme Eugênio, um dia disse que meu traço parece o do meu pai. De fato sempre fui admiradora do traço dele, por ser solto, livre, como procuro fazer o meu. Então creio que fui muito influenciada pela arte dos dois, mas claro, sempre respeitando meu próprio traço e minhas características.



2- Quais outros artistas te influenciaram nos primórdios de seu fascínio pela pintura? 

Um grande amigo artista plástico, Murah Lemos; artistas locais contemporâneos do meu tio Amaury, Saida Cunha, Roos, DJ Oliveira, outros artistas locais como G. Fogaça, Guilherme Eugênio, Mateus Dutra, Gustavo Rizério, meu professor de desenho e pintura Waldemar Lima, Simone Taya, Paulo Duarte. E claro, os clássicos como Da Vinci, Van Gogh, Renoir, Modigliani, Klimt, Kandinsky, Miró, Frida, dentre outros que tive oportunidade de conhecer em museus na Europa, Buenos Aires, Nova Iorque e Miami. 




3- O livro "Quarto de despejo: diário de uma favelada", escrito pela Carolina Maria de Jesus inspirou sua série "Cinderela Negra". De que forma essa obra da Carolina te impactou e por que uma série inspirada nessa autora?

Sempre fui fascinada pela história de vida das pessoas. Um dia me deparei com a sinopse do livro da Carolina na minha timeline do facebook, fiquei muito intessada. Consegui emprestado e já nas primeiras páginas fiquei estarrecida com a forma com que ela contava as dificuldades porque passara, e com o que ela relatava. Também vi que o tema é extremamente atual, a miséria vivida por milhões de pessoas, não só no Brasil, mas no mundo. Foi bem na época em que planejava produzir uma série pra minha primeira exposição em Goiânia. Daí surgiu a ideia de fazer a série baseada no livro, por ser um tema atual e por ter mexido comigo internamente, no sentido de olhar mais pro próximo e imaginar o que será que ele vive, por quais dificuldades ele passa, em que posso ajudá-lo, mesmo não tendo muito.



4- O que te motiva a criar?

O processo criativo pra mim é algo muito pessoal. Ele acontece sempre que sinto dor ou amor. Seja dor pelas mazelas mundanas, seja dor por processos internos, seja dor de amor, ou mesmo amor, não só o romântico, mas o amor cósmico, universal. Essa é minha mola propulsora pra criar. Também a vontade de mostrar pro mundo a minha visão sobre o que sinto, o que vejo, o (pouco) que compreendo do universo.



5- Como você vê a cena cultural e artística de Goiás?

Pergunta polêmica, risos. Considerando que consumo arte e cultura desde a infância, por estar em contato com meu tio Amaury, artista renomado em Goiás e no Brasil, desde criança, por ser filha de artista, e depois por gostar de arte e continuar a buscar por ela até hoje, vejo a cena cultural e artística goiana forte no sentido de ter muito artista bom fazendo arte e produzindo cultura, mas desvalorizada. Tanto no âmbito governamental quanto no âmbito pessoal, ou seja, das pessoas desvalorizarem os artistas locais, dando preferência ao que é de fora. Quando estudamos história da arte, não se fala muito em história da arte local, regional, mas sim a mundial. Então sinto que falta incentivo até mesmo das escolas, do governo em resgatar e mostrar nossas raízes culturais verdadeiras, que não são só a europeia, mas principalmente a indígena brasileira, a africana, a sul americana. Sendo assim, acho que valorizaremos ainda mais o que temos de bom e belo em Goiás. Por isso valorizo tanto meus amigos e amigas artistas, antes de valorizar estrangeiros. Eles me enriquecem muito.



6- Você também escreve poemas e prosas. Quais autores te influenciaram na literatura? Fale sobre sua escrita. 

Costumo dizer que sou escritora por atrevimento, pois não é minha graduação. Porém sempre gostei de escrever. Desde criança escrevo diários, cartas pra família. Sempre foi minha forma de externar o que sinto, pois sou tímida - era mais na infância -, e não lidava bem em demonstrar sentimentos oralmente, daí encontrei na escrita a maneira de colocar tudo pra fora, de forma poética. Minha avó paterna era poetisa, Teresa Godoy, que foi quem me inspirou a enveredar pelos caminhos da poesia. O primeiro poema que tenho registrado foi em 1991 ou 92, com uns nove ou dez anos. Os autores que me influenciaram e influenciam não são apenas da poesia, mas autores clássicos como Machado de Assis, Rubem Braga, Florbela Espanca, Fernando Pessoa, Victor Hugo, dentro outros. Autores locais também como minha avó Teresa Godoy, minha tia-avó Maria Rosa Fleury, Augusta Faro, Yeda Schmaltz, Leda Selma, Maria Lúcia Félix Bufáiçal, Adalberto de Queiroz. 




7- Como produzir arte em tempos tão sombrios?

  "Só a arte salva." Justamente por serem tempos sombrios é que devemos produzir arte, porque é através dela que amenizamos a dor causada pelos tempos sombrios. A arte nos afaga a alma, nos abraça e acaricia, fazendo-nos reviver em dias tão doloridos, diante de tanta crueldade vista mundo afora. A arte faz-nos enxergar o que não conseguimos ver às vezes por causa da dor. Por isso faço arte, pra me trazer de volta à vida colorida e bonita que existe no universo, mesmo com tanta feiura, desamor. Ainda que a arte seja vista como algo suplérfluo e desnecessário por muitos, continuo porque sei que ela e o amor que sinto por ela é que me farão passar por esse momento em que vivemos. 

8- Uma frase.

O amor e a arte salvam.



9- Próximos  passos.

Estou produzindo uma série nova chamada "Aflorou", que pretendo expor ainda esse ano. Tentando não sair do centro por causa dessa quarentena e esse vírus que está fazendo um estrago no mundo. Como bióloga às vezes perco a esperança, mas como artista, ela sempre ressurge das cinzas, como a fênix que sou. Planejando publicar meu primeiro livro solo de poesia também esse ano. 

10- Deixa um recado. Fale o que quiser.

Pessoas lindas e artistas do mundo, uni-vos contra os poderosos asquerosos que querem a todo custo nos escravizar e destruir a humanidade. Mas antes de mais nada, cada um deve mergulhar dentro de si mesmo, libertar-se de todas amarras impostas desde sempre e assim acabar com toda desigualdade, desamor, escravidão.