terça-feira, 10 de outubro de 2017

O ARTISTA VISUAL DALTON ROMÃO

Por: Diego El Khouri


Nesse meu processo de mergulho na cultura/arte contemporânea venho entrevistando muitos artistas interessantes e dessa vez tive o prazer de registrar esse bate papo com o artista carioca Dalton Romão.


"Dalton dos Reis Romão, artista, nasceu no Rio de Janeiro em 1952.
Iniciou suas atividades artísticas ainda criança, inspirado em quadrinhos.
Aos 19 anos entrou na Escola de Artes Gráficas do SENAI/RJ para fazer Projetos Gráficos.
Lá começou a pesquisar o Dadaísmo e a Pop Art. Como prêmio, por ser um dos mais bem classificados da turma,
ganhou um estágio no departamento de arte da agência de publicidade J. Walter Thompson.
Atuou como layoutman e ilustrador nas Páginas Amarelas onde desenhava logotipos, vinhetas e afins.
Se desenvolveu como ilustrador e voltou para o mundo da publicidade, foi promovido a diretor de arte
e ganhou diversos prêmios em várias agências onde atuou por muito tempo.
Em 2015 participou das exposições Rio 450 (RJ), Colhendo Estrelas (SP), Salão de Arte do Corpo de Fuzileiros Navais/MNBA (RJ),
recebendo Prêmio Destaque pela€“ melhor obra sobre o tema, Salão de Arte Contemporânea / SBBA (RJ), recebendo Medalha de Ouro,
Marés & Cores 3a Edição (RJ) e 19º Circuito das Artes do Jardim Botânico (RJ).
Foi selecionado com quatro trabalhos no livro State of the Art – Artist’s Book, volume III, que está sendo distribuí­do na Europa.


“Meu processo de criação é baseado em pesquisas em sites de fotos free.
Tenho uma coleção enorme e as vou colando de uma maneira empí­­rica, experimental mesmo.
Parece uma coisa espiritual. Acontece no modo intuição.
Aparentemente não tem lógica nenhuma e quando chego em um resultado que considero final, aí­­ sim vem um nome”€."




1) Qual a importância que as artes visuais tem em sua vida e por quais linguagens transita para criar conteúdo, poética e diálogo?

 O conceito de artes visuais é amplo, engloba várias atividades e algumas como desenho, colagem, gravura e fotografia, de alguma maneira, fizeram parte da minha vida desde a infância. Comecei desenhando influenciado por HQs. Depois, na escola de artes gráficas me interessei por colagem e serigrafia. Mais tarde, já na publicidade, conheci a fotografia. Hoje meu trabalho é uma mistura disso tudo - desenho, pinceladas, traços, vetores e fotos free amalgamados no computador. Transformo luz em tinta. O resultado final é obtido com impressão fine art que faz uso de pigmentos minerais e a utilização de papéis importados em alfa-celulose ou 100% algodão.


A minha poética tem muito a ver com as minhas ansiedades, sobre o que leio e o que penso do mundo. Influências da Pop Art e da pós-vanguarda alemã. Artistas como Rauschenberg, Wharol, Basquiat e Sigmar Polke sempre fizeram a minha cabeça.

2) Aos 19   anos de idade entrou na Escola de Artes Gráficas  do SENAI/RJ para fazer projetos gráficos. Dentro desse ambiente começou a pesquisar o Dadaísmo e a pop art. Por ser um dos mais bem classificados da turma, ganhou um estágio no departamento de arte da agência de publicidade J. Walter Thompson, e ganhou diversos prêmios em várias agências de publicidade. De que forma tais experiências influenciaram seu trabalho no campo das artes visuais?
Trabalhei, nos meus mais de 35 anos como publicitário, com pessoas muito talentosas que vieram do jornalismo, da poesia, do cinema, da filosofia e do design.Isso me deu uma bagagem bem eclética. E o que passei a ver e ler foi muito influenciado por eles e se reflete no que faço.



3) De que forma enxerga a cena artística e cultural do Rio de Janeiro na contemporaneidade e quais paralelos faz com os outros Estados do Brasil? 

 Tem pouco tempo que transito nessa área, ainda nova para mim, mas pelo que converso com alguns artistas de outros estados e principalmente do nordeste, o que mais aflige é a dificuldade de se conseguir espaço em galerias do eixo Rio / São Paulo. Sabemos que têm outras coisas além do próprio trabalho que influenciam. Existem certos preconceitos que são difíceis de sobrepujar. Eu, por exemplo, comecei a mostrar meu trabalho aos 60 - estou com 65 - e fazendo arte digital. Loucura? Brincadeiras à parte, tem que ter comprometimento, coragem, muita ralação e, é claro, um trabalho diferente para poder realmente ser notado. Sempre que é possível participo de eventos. Aqui no Rio, não faltam.



4) Você participou da 1ª Bienal Visual de Arte Contemporânea no Brasil. Nos conte essa experiência e fale sobre os trabalhos que expôs nesse evento. 

 1ª Bienal Virtual de Arte Contemporânea, foi uma ideia do Paulo Mendes Faria, artista de Petrópolis, cidade serrana do Rio de Janeiro, para dar oportunidade de visualização à artistas que ainda não têm ou não tinham espaço em galerias. Muitos participantes e sem uma curadoria que filtrasse fez com que o resultado final não me agradasse. Gostaria que nem tocasse nisso.



5)  Em Setembro de 2014 foi medalhista de ouro no salão de Arte Contemporânea da SBBA, com duas gravuras (Race Hens e Caminho Indefinido). Ouro também na categoria "Destaque" no Salão dos Fuzileiros Navais com a gravura Adsumus. Nos fale sobre essas premiações, os trabalhos contemplados  e quais impactos tais prêmios teve em sua jornada artística. 

 Estava começando e ansioso para participar de exposições. Esse dois salões são lugares de arte tradicional e acadêmica, mesmo assim entrei para começar a fazer currículo e surpreendentemente ganhei Ouro na SBBA e tive a minha gravura, no Salão dos Fuzileiros Navais, como o melhor trabalho exposto. Foi um estímulo para continuar trilhando pelo digital.



Caminhos Indefinidos
100 x 100 cm



Race Hens
100 x 100 cm



Adsumus
60 x 42 cm


6) Você trabalha também com arte digital e as utiliza em suas experimentações. Você acredita que a arte está sempre ligada a esse laboratório criativo "anti segmentação"?



 Hoje meu trabalho é digital. Criei um grupo com mais três artistas, Os Digitais, exatamente com a intenção de discutirmos processos e mostrarmos para o público que é só mais uma outra ferramenta e muito atual, por sinal.
Acredito que o artista deva se apropriar do que for necessário para poder expressar o que sente. 




7) O que está lendo ultimamente?

Acabei de ler "Mortais" do Atul Gawande, livro que fala sobre o caminho que devemos percorrer para lidar sabiamente com nossa própria finitude.



8) Que  tipos de projetos vem desenvolvendo com o artista visual Franz Manata?

O Franz Manata foi meu professor o ano passado todo na EAV. O atelier que eu participei com ele não era do como fazer e sim do que fazer. O nome era Desenvolvimento de Projeto. As discussões eram sobre o processo criativo na obra de cada um de nós, alunos. Amadureci bastante e passei a olhar de outra maneira o que vinha fazendo e com isso vieram algumas mudanças.



9) Uma frase que te causa impacto e faz parte do seu imaginário criativo.

 "Morra antes que você morra" frase Sufi que faz nos lembrar que é preciso sempre estar procurando novas maneiras de ser e fazer. Lembrar que a morte é transformação. Que o novo é sempre bem-vindo e, ruim é ficar estagnado e ultrapassado.



10) Próximos passos.

 Continuar pesquisando, lendo, vendo e desenhando para levar meu trabalho sempre à novos patamares.



da série "Imagens que Inquietam"


70 x 100 cm

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

O POETA MAZINHO SOUZA

Por: Diego El Khouri

Mazinho Souza é goiano, poeta, agitador cultural, bardo  inquieto, delirante.  Ao lado de outros escritores, criou a editora marginal Goiânia Clandestina. Esse ano (2017) foi publicado o primeiro livro da editora:  uma antologia com poemas dos participantes da Clandestina. 
Logo abaixo a entrevista que fiz com esse maluco:





1)     O que te despertou no início a criar "imagens  poeticas" através da palavra?

Com doze anos, após ler um poema de um tio meu, fiquei encantado com aquela linguagem e isto me despertou a tentar também e desde então não parei mais.


2)     O que é ser um escritor em um país onde a Cultura é deixada de lado pelo Estado ?

ser escritor em tempos de crise política e descaso cultural do governo é estar de acordo consigo mesmo, é esquivar de todo mecanismo que envolve as grandes elites e, mesmo fudido, estar de consciência limpa com o que se faz.


3)     Nos fale sobre a editora Goiânia Clandestina.

A Editora Goiânia Clandestina é o abraço ao poeta suburbano, marginalizado, o escritor sem ilusões. A editora vem com intuito de dar voz a quem precisa falar, no caso o poeta, e expandir a cultura na cidade, mesmo sem apoio governamental, como forma de expressão e crítica aos tempos atuais.


4)     Octávio Paz dizia que "poesia é a subversão do corpo", Breton  falava que "poesia  é a orgia mais fascinante ao alcance do homem" e, mais na atualidade, Glauco Mattoso veio a dizer que "poesia é a metralhadora na mão do palhaço". E pra você o que seria poesia?

Bom, diferente dos grandes mestres da literatura, eu acredito que poesia seja, simplesmente, viver com a verdade, de acordo com a natureza das formas e das coisas, sejam elas construídas ou naturais. Mais que tudo, poesia é estar vivo e no presente, onde a eternidade reside.



5)     Como se dá o diálogo com outros artistas e público e  de que forma isso influencia em seu trabalho no campo da literatura?

se tratando da escrita em si, poucos ou quase nenhum momento, sou influenciado por diálogos com artistas ou o publico em si, são os livros, as leituras e o ócio que me influenciam, é a tranquilidade de pensar e raciocinar uma idéia. Mas se tratando do trabalho no ramo da literatura, publicações, eventos etc, o contato com artistas e publico é essencial, tanto para compreender a necessidade cultural de cada indivíduo, como também a discussão de uma ideia a ser materializada, neste caso a influencia é quase que total.

6)     O que anda lendo ultimamente?

Ultimamente ando lendo bastante a poesia que está sendo produzida aqui em Goiânia, é quase minha leitura diária, há mais ou menos dois anos, nomes como Paulo Manoel, MaHa Iza, Jheferson Neves e outros poetas em atividades atualmente. Também venho deliciando, nos tempos de ócio, com João Cabral de Melo Neto, Ferreira Gullar, Chacal, e no campo da filosofia Aristóteles e Platão

7)     De que forma as artes podem influenciar  de forma positiva a sociedade? 

Bom, a arte vem à tona para desconstruir uma ideia e despertar o interesse ao novo. Vem como possibilidades de quebras de paradigmas, tais como conceitos morais, e a sugestão a outro ponto de vista do humano enquanto ser, da sociedade enquanto conjunto, da vida enquanto contemplação e expansão dos sentimentos da alma.


8)     Uma poesia sua.

eu, pequeno moço
sei o pouco para sobreviver
no todo que sobrevier

sei que tamanco não dá pé
para o ocorrido
no corpo ao qual não saio
nem para o ensaio dos encontros

e um bolso falido
que leva a saudade
como vaidade
de fuga

por que estaria eu
por aí à estampar
rugas

se meu verso é criança
e como preferência
escolhe a dança
à ilustrar o sombreamento
da rua.

9)     Epitáfio.

“que a poesia seja meu último apego” Dayse kenya

10)  Fale o que quiser. Mete bronca!

Eu quero que o humano se sinta de dentro pra fora
Que alcance os sentimentos mais ousados que tua alma possibilite
Que se entregue aos impulsos do devir
Que se negue à castração imediata da razão
Que se veja sempre em reflexo
Que planeje a direção
Mas não o destino
E que neste desatino
Aprenda a simplicidade

De viver.