quarta-feira, 20 de julho de 2016

MAIS UMA TROCA DE IDÉIAS COM FABIO DA SILVA BARBOSA

Por: Diego El Khouri



Conheci Fabio da Silva Barbosa através do grande sonetista Glauco Mattoso. Ele me mandou um zine que o Fabio fazia na época com Alexande Mendes e Winter Bastos chamado Berro (zine  que Winter ainda edita) e passamos a nos comunicar via internet e correio (sim, ainda há pessoas que se correspondem através de carta: os zineiros). Um tempo depois nos encontramos no RJ na minha primeira ida lá (por volta de 2010). De lá pra cá trabalhamos juntos em vários projetos  bacanas como por exemplo o Coletivo zine (http://coletivozine.blogspot.com.br/) e a capa do seu livro de poesia chamado Palavras Marginais (depois quero em outro momento falar mais sobre esse livro). Fabio é um agitador cultural obsessivo. Uma de suas "viagens" mais interessantes é o fanzine Reboco Caído (tanto a versão impressa quanto o blog http://rebococaido.tumblr.com/).
 Tive o prazer de entrevistar esse maluco  duas  vezes e achei que agora era a hora de registramos mais uma troca de idéias.


1) Comece falando sobre seu livro recente intitulado 'Sobre uma sociedade decadente' e como adquirir um exemplar.

Esse trampo saiu pela Editora Resistência, em formato e-book. O download é gratuito.
Livro (e-book) download gratuito direto com a editora nos links 
ou direto com o autor pelo e-mail fsb1975@yahoo.com.br


2) E o livro "Escritos malditos de uma realidade insana”?

Na verdade, o Escritos, o Sobre uma sociedade e o Reflexos e Reflexões são uma trilogia, mas acabaram saindo em momentos diferentes. Gosto de todos, mas tenho um grande carinho pelo Escritos. Gostei muito do resultado. Para conseguir qualquer um deles é só dar uma procurada no oráculo moderno.

3) Além desses livros, fale sobre seus projetos atuais.

Tô lançando o Salada Cascuda, projeto com a editora cartonera Candeeiro Cartonera. Sempre quis lançar um lance pelo movimento cartonero. Curto bastante a iniciativa. Graças a galera que participou da pré venda pude realizar essa parada. No final do mês estará nascendo o Palavras Marginais. São livros muito singulares. O Salada viaja sobre meus diferentes estilos de escrita. Passa por várias formas e propostas. O Palavras já se divide em duas partes e cada parte segue numa linha, embora se complementem. Ambos têm edição limitada e quem quiser garantir o seu é bom correr atrás enquanto é tempo.



4) A poesia continua forte em seu trabalho cultural; versos carregados de muita intensidade, contestação e revolta. Octavio Paz definia poesia como "subversão do corpo" e Glauco Mattoso como "a metralhadora na mão do palhaço. Ainda há espaço para a poesia nessa sociedade cada vez mais voltada à vida pragmática e competitiva?

A poesia é necessária nessa sociedade. É necessária como resistência, como algo a margem, mas que dá voz. A sociedade não dá espaço a nenhuma forma de expressão que não se enquadre em seu esquema alienante, na coisa da podre geração zoeira. Para essa sociedade, com certeza, ela não é importante, o que é até bom. A poesia não tem de fazer parte dessa imundície mesmo. O papel dela é outro. Lógico que temos os burgueses excêntricos, que gostam de coisas diferentes, e com isso acabam incluindo a poesia entre o repertório, ou então aquele que gosta de se dizer culto e intelectual e vê as formas de expressão como algo elitizante, A ARTE. Quem sabe qual é, logo vai separando o que tem conteúdo do que é puro lixo. A poesia é uma importante ferramenta. Uma entre muitas. Tudo depende de quem vai usá-la.

5) A literatura sempre teve uma função de libertar as pessoas da forma restrita que enxergam o mundo. Você, como escritor, agitador cultural e jornalista, como encara o crescimento contínuo de figuras extremistas como Bolsonaro, Malafaia e Feliciano? E dentro desse contesto, na sua opinião, qual a posição teria os movimentos sociais?

Cara, esses vermes são a caricatura do que há de pior no ser humano. Uma vergonha ainda existir esse tipo de mentalidade hoje em dia. Mas essas figuras só se criaram e se expandiram porque as pessoas deram margem, não levaram a sério. Agora os caras estão aí com força para fazer merda a vontade e ainda querem mais. Acho que a função não só dos movimentos sociais, mas de cada um de nós, é combater esse tipo de canalha com todas as forças antes que seja tarde. Cada um de nós é um movimento social. A menos que se viva na inércia, cada ser é um movimento social e há os que sejam movimentos revolucionários.

6) Ainda acreditar no fanzine impresso mesmo nessa era digital? E como anda o Reboco Caído?

Claro. Não tem como não acreditar. Se não, ia acreditar em quê? Na Rede Globo? A internet pode ser monitorada, como nos monitoram pelas redes sociais, pode te excluir, como excluíram meu antigo blog INVERSO&AOCONTRARIO ou o antigo do Reboco Caído, mas o impresso é muito mais fora de controle. Não tem como controlar. Em qualquer lojinha se tiram as cópias e depois é só começar a distribuir por aí. Já tô com o próximo número do Reboco Caído pronto. Tá muito bom. Não vejo a hora de conseguir reproduzir. Esse ano a coisa ficou mais lenta no campo dos zines devido a falta de grana e a correria pelo pão de cada dia. Sabe como é. A gente que não faz parte dos ricos excêntricos citados anteriormente e que passamos o aperto que a grande maioria da população sofre, sabe que não é fácil manter os projetos vivos e a cabeça funcionando. Tem de ter muita convicção, determinação... ou sei lá qual a palavra correta para definir esse tipo de loucura, de insistência.  

7) Você é um cara que já entrevistou diversos artistas. Por que essa obsessão em levar ao conhecimento das pessoas tantos trabalhadores das artes?

Sei lá. Vontade de dividir com os demais algo que conheci e gostei, valorizar o conhecimento e a produção alheia, apoiar o que ocorre de forma independente e alternativa, paixão, apoio mútuo, crença... Vai saber.

8) Quais escritores da "nova geração" estão te chamando atenção? Há luz no fim do túnel?

Há muitas pessoas produzindo. O problema é que a maioria fica ancorada na mesma meia dúzia de sempre. Aí não dá. Enche o saco sempre o mesmo bláblá e certezas falidas. Não que ache que devamos esquecer os clássicos, as coisas antigas, mas precisamos estar sempre nos atualizando. Não adianta nada encher a estante de livros inscritos no manual de quem gosta de ler coisas diferentes e nunca ter lido Diego El Khouri, Mazinho Souza, Carlos Bruno, Jesuana Prado... entre vários outros. Poderia fazer uma lista enorme aqui, mas acho que já deu para entender. Se não deu, ilustro então de outra forma. De que adianta você ter lido todos os livros da geração beat, se não leu o do Ivan Silva? Pra mim não adianta nada. Aí as ideias não continuam seus caminhos. Fica sempre estacionado no que já foi assimilado e não assimila o que realmente está acontecendo. O cara se acha moderno, mas está sempre um passo atrás do hoje. Muitas vezes vários passos e há também o que só caminhe de ré. Até porque o próprio conceito de moderno já é algo passado. Aí vem aquela cegueira toda dizendo que hoje em dia não acontece nada, que antigamente que era bom. Tem coisa acontecendo a todo momento e em toda parte, só que as pessoas não se interessam em correr atrás de conhecer. Ficam esperando as novidades virem pela tv ou pelas fms da vida. Ficam esperando o próximo lançamento da LPM. Talvez isso também responda um pouco da pergunta a cima e a anterior.

9) O que que queria dizer e não te perguntei?

Muitas coisas. O próprio infinito.


10) Uma poesia pra finalizar.

Seria difícil escolher uma.




3 comentários:

  1. Foda como sempre. Esse papo poderia se estender indefinidamente sem nunca se tornar monótono ou trivial.

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  2. Dale! Esse é um grande difusor da cultura zine, vida longa!!

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