quarta-feira, 7 de agosto de 2013

SYLVIO PASSOS E O RAULSEIXISMO

(Por Diego El Khouri)





Mais uma bela entrevista a encher de vigor e energia as páginas desse blog:
Sylvio Passos,  o fundador do primeiro fã clube oficial de Raul Seixas, além de responsável pelo LP "Let Me Sing My Rock n'Roll" (1985), entre outros trabalhos. Sylvio conviveu com Raul Seixas por quase 10 anos e fizeram músicas em parceria. Abaixo a entrevista que fiz com  essa figura viva e atuante do rock n'roll nacional:




Nos conte como foi seu primeiro encontro com Raul Seixas, qual a importância que  teve em sua vida e  o que ele representa para a música brasileira hoje.
 Pessoalmente, olho no oho, foi em 1981, na casa dele no Brooklin, aqui em Sampa. Foi um encontro que afirmo, mudou o rumo da minha vida como um todo, pois até alí eu estava me preparando para ser jornalista e/ou psicólogo, mas acabei optando pela defesa do raulseixismo e assim estou até hoje. A importância de Raul Seixas para música brasileira é inquestionável tanto no aspecto musical como no quesito composição e comportamento. Raul é único.



Você é o fundador do fã clube oficial do Raul Seixas. O primeiro fã clube dedicado exclusivamente  a sua obra. Como o "maluco beleza" recebeu essa homenagem?
 Raul vestiu a camisa, literalmente, logo que soube da existência do Raul Rock Club e assim seguiu até seu último suspiro. Foi por conta disso que acabamos superando a relação fã-ídolo. Transcendemos isso e acabamos nos tornando brothers de verdade.


Como era Raul Seixas na intimidade? Era Sexo, drogas e  rock n'roll full time mesmo? 
 Há há há... Eventualmente sim. Mas, no geral, era um cidadão muito preocupado com todos à sua volta, uma pessoa fina e, de certa forma, até meio "careta". Uma figura realmente ímpar. 



A imagem de profeta que a mídia usava e abusava  tempo todo em torno de Raul, fortalecida pelo seu gosto por filosofia e  o conteúdo das letras de suas músicas, o incomodava ou não?
 Raul nunca curtiu muito essa imagem messiânica, em muitas de suas músicas ele deixa bem claro isso. Já o gosto pela filosofia e os mistérios sobre o mundo sempre fizeram parte de sua formação tanto oficial como a autodidata. A música era só uma forma de canalizar essas maluquices todas. 



O que achou ao ver finalizado o filme documentário sobre a vida de Raul Seixas dirigido por Walter Carvalho? 
Adorei o filme, embora muita, mas muita coisa e pessoas tenham ficado de fora. Não é um filme definitivo sobre Raul dada a pluralidade que o envolve. É, sim, a visão de Waltinho sobre o homem e o artista Raul Seixas. O que mais gostei no filme fui justamente a humanização de Raul, tirando-lhe aquela carga messiânica que, infelizmente, ainda hoje muitos fãs insistem em defender.

Quais as bandas que  você tem ouvido ultimamente?
 Nada de novo propriamente. Meu gosto musical é bem variado, vai da Música Clássica ao Trash Metal, passando, claro, pela MPB, Blues, Rockabilly, Jazz, Progressivo e por aí vai. Tudo depende do dia, da situação, do momento. Hoje, por exemplo, tirei o dia para ouvir alguns álbuns do Zappa e do Lou Reed e também os takes da Putos BRothers Band. 



Fale sobre sua participação  na  banda Putos BRothers Band que toca covers de Bob Dylan, Raul Seixas,  além de outros roqueiros e blueseiros nacionais e internacionais.
A Putos Brothers Band (escreve-se com BR maiúsculo mesmo numa referência ao Brasil, aos irmãos brasileiros) não é uma banda cover. É uma banda autoral com composições minha em parceria com Agnaldo Araújo. Nos nossos shows prestamos homenagens aos nossos ídolos fazendo releituras de algumas das músicas que curtimos.




Você é responsável pelo livro  "Raul Seixas por ele mesmo". O que podemos encontrar de novo e diferente nessa obra em relação as demais publicações sobre o roqueiro baiano.
 Bom, o livro-clipping "Raul Seixas Por Ele Mesmo" foi o primeiro livro publicado sobre Raul, nada havia sido publicado antes de seu lançamento em abril de 1990. Logo, todos os outros meio que surgiram após sua chegada no mercado.



Como você vê a presença sempre constante da obra de Raul Seixas espalhada em tudo quanto é lugar, tribos e classes sociais? Pergunto isso porque desde o roqueiro mais fervoroso ao sertanejo mais careta todos gostam ou pelo menos conhecem bastante  as músicas do Raulzito.
Essa é a mágica de Raul, ele não direcionava sua genial metralhadora intelectual apenas numa direção, num único segmento. Raul sempre desejou falar pro mundo, pra todo mundo e ele conseguiu isso com maestria sem igual aqui no Brasil.

Muitas pessoas falam (inclusive no filme é abordado isso) que Marcelo Nova se aproveitou  de Raul Seixas para promover sua carreira. O que acha disso?
 Bobagem. Ninguém se aproveitou de Raul nesse sentido. Nem Marcelo, nem Paulo Coelho e nem ninguém. Quem diz isso é porque tem limitações de visão e não compreende e muito menos conhece (ou conheceu) a complexidade das relações de Raulzito. São apenas conjecturas, e conjecturas são conjecturas nada mais que conjecturas. Logo...



Lobão numa entrevista  disse que conheceu muita banda nova quando rodava a revista dedicada a música independente chamada "Outra Coisa". Essa experiência, contrariando alguns intelectuais, segundo ele, fortaleceu a  ideia de  que muitas bandas boas de rock estão sim tocando por aí em vários festivais pelo país todo, porém sem  espaço nenhum na grande mídia convencional. Vendo sob  está ótica, há algum músico da atual geração  com essa mesma qualidade que Raul possuía de síntese e profundidade ou acredita apenas que vivemos  numa decadência na música brasileira como um todo?
 O mundo mudou. Os focos são outros atualmente. O que noto é que há muito tempo músicos e artistas em geral não captaram essa mudança e vivem o presente com discursos e posturas do passado quando eles mesmos, paradoxalmente, apelam por algo novo. Há que se aguardar por mais algum tempo par ver o que realmente é novo nesse campo. E vai surgir e ficar "velho" muito rápido. Pois é assim que caminha o mundo. O novo nem sempre é digerido de imediato, precisa envelhecer um pouquinho pra depois ser aceito, entende? Então, é evidente que tem muita gente boa por aí fazendo coisas geniais. O que não acho de bom tom é ficarem fincados só nas trivialidades artísticas que sempre existiram desde a invenção da indústria cultural. Tem tudo pra todo mundo e cada um vai em busca daquilo que gosta. Quem fica focado só naquilo que não gosta acaba perdendo muito tempo e se frustrando. Claro que vai se frustrar mesmo e ainda reclama. Se ficasse focado no que gosta, talvez, tivesse algo melhor pra dizer ao invés de ficar só nas lamentações. Se você dirigir seu carro olhando só pro buraco, ele vai cair no buraco. 

Qual foi o maior aprendizado convivendo com Raul Seixas?
Olhar pluralisticamente pro mundo e pra mim mesmo. Nada supera esse aprendizado.



Li algo sobre uma biografia sua. Como está o projeto? Previsão de lançamento?
 Há dois projetos com biografias minha. Uma mais poética e outra mais clássica. Ambas estão em andamento mas sem uma data certa para lançamento ainda.

Seu disco de cabeceira. Aquele som que te acompanha sempre.
Desde garoto ouço uma banda inglesa chamada King Crimson e o italiano Antonio Vivaldi. Ainda hoje viajo muito curtindo ambos.


Pra terminar, você acha que os fãs do Raul Seixas entenderam sua mensagem?
 Não e sim. Porque a música de Raul não é propriamente para ser "entendida", é pra ser sentida, e sentimento nem sempre tem tradução oral, escrita... Fã é fã. Fanático é fanático. Sacou?

abs,

SPassos

Um comentário: