segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

A MÁQUINA DE PRODUÇÃO FABIO DA SILVA BARBOSA II

(Por Diego El Khouri)


Vai aí mais uma entrevista que fiz com o jornalista, poeta, contista e fanzineiro Fabio da Silva Barbosa. Nos conhecemos em 2009 através do Glauco Mattoso. Trombamos pessoalmente na minha primeira viagem ao Rio de Janeiro e desde então ficamos amigos. Hoje ele mora em Porto Alegre e eu no Rio de Janeiro. E como muita coisa aconteceu desde a última entrevista que fizemos, resolvi acrescentar mais esse novo bate papo nesse blog que visa devassar ao máximo a chamada  "cultura alternativa".

 Só faltava uma mesa de boteco pra ficar ainda melhor.


http://rebococaido.tumblr.com/




 1) Comece falando da sua mudança de  Niterói (RJ)  para Porto Alegre (RS). Observou diferenças significativas na produção alternativa das duas regiões? E o intercâmbio com o resto do país, como está?


Estava precisando respirar novos ares e fui o mais longe que podia chegar. O mundo é imenso e ainda existem muitos lugares que gostaria de conhecer. Mas não conhecer como turista, visitando aqueles pontos e blábláblá... Prefiro conhecer como habitante, o dia-a-dia...
Falando especificamente da produção alternativa, observei muitas diferenças, assim como pontos em comum. É um lugar diferente, com pessoas diferentes... Sabe como é. Mas estou curtindo isso tudo. O pessoal aqui é bastante ativo e combativo. Digo isso não só em relação a produção cultural, como em relação ao ativismo político. Se bem que a coisa pelo RJ está intensa também. Sempre teve uma galera fazendo acontecer por aí, mas parece que agora o caldo engrossou e isso é ótimo. As pessoas têm de estar em movimento para o mundo andar. Quem fica parado cria mofo e apodrece.
O intercâmbio com o resto do país continua fluindo. Volta e meia aparece alguma novidade vinda de algum lugar, conheço uma figura criativa... Trocar ideias e experiências é sempre muito legal. Conhecer e absorver é sempre bom para que não nos permitamos ficar trancados em nossas míseras certezas.   


2) E sua produção atual, como está?

Desde que cheguei ao Sul minha produção diminuiu bastante. Muita coisa nova para aprender, pessoas para conhecer, lugares para ver... e por aí vai. Mas as coisas continuaram acontecendo. Mesmo diminuindo o ritmo, continuei a produzir. O Reboco Caído continuou saindo, sou assessor de imprensa de uma associação de moradores daqui, lancei o livro “Escritos malditos de uma realidade insana” (http://www.lamparinaluminosa.com/index.php/os-livros/e-book/59-escritos-malditos), iniciei um projeto no Presídio Central (mas com a mudança na direção do presídio somado a outros acontecimentos o projeto perdeu o acesso ao lugar), retomei minhas atividades com blogs... e mais um monte de coisas. Mesmo assim não estava satisfeito e queria voltar a produzir tanto quanto antes. Em minha opinião, eu estava muito lento. Então comecei 2014 com a “Tarde multicultural sem fronteiras” e estou me esforçando para produzir mais e mais, até retomar aquela produção hemorrágica de antigamente, aquela coisa compulsiva onde nada mais importa.

3) Fale sobre sua opinião em relação aos manifestos que circularam o país na metade de 2013, dê sua avaliação e como anda  o movimento hoje. 

Isso tudo é a continuação de coisas que já vem acontecendo faz tempo. A movimentação por mudanças sempre esteve aí. Em alguns momentos essas movimentações tomam força e os grandes meios de comunicação não conseguem fingir que nada está acontecendo. Daí, os que ainda não aprenderam outras maneiras de se informar começam a ver o que está acontecendo. O problema é que essa galera informada pelos veículos convencionais fica com uma visão deformada das coisas. Na verdade, essas pessoas não se informam. Como jornalista, sei bem do que estou falando. Quem quiser saber o que está rolando nas manifestações deve tirar a bunda da cadeira e ir ver com seus próprios olhos, a mente aberta e o comodismo jogado na lixeira.    
Minha avaliação é que o povo tem de ir para rua mesmo. Esse lance de ficar de covarde em casa, preso a zona de conforto, sofrendo em silêncio, é coisa de bunda mole. As pessoas têm de ter medo é que tudo continue assim. Se a população não for para as ruas exigir seus direitos, nada vai mudar. Quem não reclama é porque está satisfeito. Eu não tô satisfeito.
Agora a última parte da pergunta: Como anda o movimento hoje? O movimento está sendo espremido por essa estrutura criada para continuar privilegiando meia dúzia. Resumiram um movimento que engloba vários movimentos, que já estão há anos na luta, a um grupo e esse grupo vem sendo cassado, taxado e rotulado. O governo está preparando a lei que vem sendo comparada ao ai5. Eles estão agindo com todas as forças para frear a reação do povo. Estão fazendo o que sempre fizeram, mas de maneira mais escancarada, com maior liberdade de repressão.  O que salva é que as pessoas não estão recuando. O povo continua nas ruas, greves continuam acontecendo... Acredito que o momento seja de repensar e reavaliar tudo o que aconteceu até agora para superar essa nova etapa e os novos obstáculos impostos.  Aprender com os erros e acertos.  

4) Ainda continuar acreditando no fanzine impresso?

Claro. Como e por que não acreditaria? Estou produzindo o próximo número do Reboco Caído que sairá impresso e digital. A versão digital tem me ajudado bastante com minha falta de grana para enviar o Reboco para outros estados e países, mas ela nunca irá substituir o impresso. Tenho tido de balancear bem os gastos entre a xerox e o correio.  

5) O que anda lendo atualmente?

Tenho lido bastante zines, blogs, a mídia alternativa e independente e relido os que para mim são clássicos da minha pequena biblioteca domiciliar.

6) Fale sobre cinema.

Tenho visto documentários e o cinema nacional antigo – duas vertentes que sempre curti bastante. O cinema nacional vem ficando muito ralo e perdendo sua essência, embora ainda existam pessoas corajosas lançando materiais bem interessantes por aqui.

7) Poesia.

Uma das muitas formas de se expressar. Mesmo com aqueles que impõem uma série de regras limitadoras e engessantes ao estilo, ainda temos verdadeiros guerreiros defendendo a poesia livre.

8) Próximos caminhos.

Ideias não param de fluir. A mente está trabalhando bastante. Novos caminhos surgem a todo o momento e estou sempre atento a eles. Não ficar pisando no mesmo solo ou se repetindo é sempre interessante. Vamos ver o que acontece.

9) Drogas (tendo em vista a legalização da maconha no Uruguai e o debate constante nos países vizinhos da América no Sul sobre a descriminalização e legalização da cannabis sativa e outros entorpecentes).

Drogas é um assunto vasto. Existem muitos tipos e cada uma com seus efeitos e particularidades. Assim como o aborto e outros assuntos tratados como tabus, o debate sobre as drogas deve ser feito de maneira mais aberta, sem hipocrisia ou preconceitos, não deixando que fique restrito a um pequeno grupo. E a questão não é só legalizar. No caso da maconha, por exemplo, não deveria ser discutido apenas seu uso, mas a própria questão do plantio. De que adianta liberarem a maconha se deixarem sua produção a cargo de nomes como a Monsanto. Acredito que o plantio caseiro seria a melhor solução nesse caso. Mas tudo tem de ser discutido com a população. As pessoas têm de adquirir o hábito do debate, do ouvir, do falar. Nenhuma decisão pode vir simplesmente de cima para baixo.   

10) Como é ver um filho seu (Solano Gualda) também entrando no universo dos fanzines e da cultura alternativa? Ele inclusive chegou a fazer uma das capas do Reboco Caído.

O Solano já fez capa e ilustrações para o Reboco. Fez também os dois cartazes da Tarde Multicultural. Fico bem feliz com isso. A gurizada aqui em casa é ótima.


11) E o movimento Black Bloc?

O Black Block é um conjunto de táticas utilizadas em manifestações. São táticas de ação direta e de proteção aos manifestantes. Os que estão se informando pela mídia convencional ainda não conseguiram entender o que realmente é o Black Block porque essa mídia não tem passado as informações corretas sobre o assunto. Ir direto a fonte é sempre a melhor alternativa. 
   
12) Aqui nesse espaço não há censura. A proposta do Fetozine é a total  liberdade de expressão. Fale o que quiser pra terminar.

Atitude, pensar, refletir, criar, caminhar e nunca parar.


* E pra quem não viu a primeira entrevista que fiz com esse guerreiro dos fanzines:

 http://fetozine.blogspot.com.br/2011/07/entrevistando-maquina-de-producao-fabio.html

3 comentários:

  1. Muita honra ter conhecido o Fábio pessoalmente, uma pessoa simples, inteligente e de uma cultura imensa. Muito aprendi ao conhece-lo e muito ainda quero aprender, com esse grande guerreiro que luta dia a dia para não deixar as coisas caírem no comum do cotidiano. Uma das melhores pessoas que a internet me deu o privilégio de conhecer.

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  2. Parabéns pelas palavras e pela luta, em vários canais! Tenho tido o privilégio de estar ao lado do Fábio em várias atividades aqui no Sul.

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