terça-feira, 21 de maio de 2019

OS QUADRINHOS POÉTICO-FILOSÓFICOS DO GAZY ANDRAUS

Por: Diego El Khouri

Venho entrevistando a galera das artes  há 10 anos. A primeira foi com o poeta Glauco Mattoso, e que publiquei no blog Molho Livre ( http://molholivre.blogspot.com/ ) em 31 de Outubro de 2010 e depois nesse blog aqui também. E nunca mais parei. Existe muitos motivos para estar nesse encalço. A cultura alternativa tem realmente, em boa parte dos casos, essa necessidade de interação, coletividade e troca de experiências.  Conhecer outras formas de pensar enriquece o nosso próprio trabalho. E o público precisa  conhecer quem são esses artistas e principalmente as artes e reflexões que eles/elas propõe. Esse blog, como já disse algumas vezes, visa devassar a cultura, ampliar nosso olhar, fortalecer a cena artística e criar um painel de produção contemporânea. Dessa vez a entrevista é com o professor universitário, quadrinhista e pesquisador em histórias em quadrinhos, Gazy Andraus. Com ascendência libanesa,  Gazy nasceu em Ituiutaba (MG) (cidade de outro grande quadrinhista brasileiro, o Edgar Franco) no dia 11 de Janeiro de 1967. Sua trajetória marca um período importante da arte sequencial brasileira, as ditas HQs  poético-filosóficos, que modificaram a forma de pensar e fazer quadrinhos no Brasil. Abaixo segue o papo com esse importante autor do underground nacional. 





1) De que forma se tornou quadrinhista e como foi o processo até se tornar pesquisador da área?

Na infância, como toda a criança, o desenho em todas as instâncias chamava-me a atenção (em revistas, gibis, desenhos animados etc). Os dinossauros me atraíam e eu os desenhava quando fui criança, incessantemente. As ilustrações de dinossauros, igualmente, me eram apaixonantes, junto do que seria a vegetação pré-histórica representada na época dos seres antediluvianos. Enquanto isso, assistia os desenhos animados e séries fantásticas (“Corrida Maluca”, “Ultra-Seven”, “Zorro”), mas os gibis foram os que mais me envolveram, pelos quadrinhos, cenas, personagens e variedades de títulos e estilos (dos desenhos, principalmente). Inicialmente no humor e depois, a partir de meus 12 e 13 anos, apaixonei-me pelos de super-heróis graças aos desenhos naturalistas (realistas) com o fantasioso da ficção mixado à realidade recriada nos heróis. Desta fase em diante, eu queria poder criar HQs de super-heróis como as dos profissionais que eu via. Depois, na faculdade de artes, aprendi técnicas artísticas e de plasticidade que mesclei à linguagem quadrinhística, enquanto conhecia os fanzines, onde principiava a publicar meus quadrinhos iniciais. A seguir, percebi a necessidade das pesquisas aos quadrinhos para lhes dar o devido valor aos olhos de quem não os reconhecia, o que me levou ao mestrado e doutorado (e agora ao pós-doutoramento sobre os fanzines, em específico).

2) Você  produziu  inúmeros  fanzines e HQs na qual eram  chamados de "quadrinhos poéticos - filosóficos.  O que seria  essa vertente da HQ?

Em meados da década de 1980 conheci os fanzines e principiei a participar deles. Fui um período muito fértil, ainda sem computadores pessoais e internet. Tínhamos uma inflação galopante no Brasil, gibis em bancas e álbuns de HQs nas livrarias que passaram a ter uma publicação cada vez com mais títulos diferentes e respaldados com reportagens jornalísticas, como nunca houvera antes no Brasil. Com isto, os quadrinhos europeus vieram com mais freqüência e passei a conhecê-los melhor. Então, em meio às HQs amadoras (e também profissionais, com HQs de Mozart Couto e Shimamoto) que eu via nos zines e os quadrinhos de super-heróis (que eu já não me contentava mais em desenhar e emular), percebi grandes diferenças naquelas artes das dos europeus como Moebius, Caza e Druillett. O álbum “O Homem é bom?” de Moebius me deixou atônito! Era totalmente diferente e seus desenhos fluídos e as histórias (se por assim chamadas) eram poéticas! Na verdade, para explicar melhor como se deu esta modificação comigo, vou contar melhor o fato. Na época (meados e fins dos anos 80), com a inflação perto dos 80%, restava um exemplar deste álbum do Moebius à mostra numa livraria em Santos/SP e todas as vezes que eu passava, não dava muita atenção. Como a livraria parou de remarcar o preço do exemplar, após umas semanas, seu valor ficou igual ao de um simples gibizinho da Ed. Abril, com seus constantes aumentos, que também acometiam todos os outros produtos no Brasil. Então, como eu estava já meio cansado de ler HQs de heróis com “crises em infinitas terras”, resolvi encarar o álbum de Moebius, ainda meio reticente...mas quando passei a lê-lo, entendi a magnanimidade e diferencial de sua arte que muito me aprouve! Enquanto isso, em alguns fanzines apareciam outros autores como Caza (Phillippe Cazamayou) com sua HQ “Vento”, altamente poético-fantástico-reflexiva! Aliado a essas novas experiências de leituras minhas, estavam meus conhecimentos e experiências que estava adquirindo na faculdade de artes, cuja amálgama com os estilos de super-heróis que ainda residiam no meu arcabouço mental, retransmiti tudo à minha arte, passando, aos poucos, a criar HQs curtas com tais tônicas (mas, claro, inconscientemente de que se tornaria um estilo distinto, também simultaneamente desenvolvido por outros novos autores). O curioso foi encontrar HQs similares às minhas, tanto no estilo de desenhos, como nas temáticas fantasioso-reflexivas, das HQs de Edgar Franco (que eu não conhecia), tendo publicado num mesmo número que eu no clássico fanzine “Barata”. Conforme fomos nos tornando amigos e difundindo mais e mais nossas artes, lançamos em 1994 o zine “Irmãos Siameses”, cocriado já com a premissa de uma arte-irmã, e tendo tido suas páginas alcunhadas como “autêntica fantasia-filosófica” pelo curador da Exposição Anual de Fanzines de Ourense na Espanha. Outros autores foram despontando com estilos distintos, como Antonio Amaral, Rosemário e AlGreco. Mas, claro, antes deles e de nós, já havia o Flávio Calazans e Henry Jaepelt (este último com desenhos que lembram os europeus Moebius e Arno) cujos estilos embrionários contribuíram para a manutenção dos quadrinhos poético-reflexivos, o que só ampliou esta visão de um estilo único brasileiro influenciado, um tanto, pelo europeu. É importante ressaltar que devido aos fanzines serem de poucas páginas e tiragens reduzidas, exigia-se com que nós autores elaborássemos HQs curtas de 3 a 6 páginas, em geral, para que mais autores pudessem publicar em fanzines como “Tchê”, “Quadritos”, “Bifa”, “Barata” etc. Esta premência de nos obrigar a elaborar HQs curtas nos forçou mais ainda a sermos mais criativos e mais sucintos (ou elípticos) em nossas narrativas, culminando no estilo das HQs poéticas! Inclusive, isto resultou num pós-doutorado do saudoso Elydio dos Santos Neto, que registrou na história da HQ e nos meios acadêmicos, tal estilo.



3) Ao longo de sua carreira, no universo dos quadrinhos,  você publicou em fanzines  e revistas internacionais como o zine francês  La Bouche du Monde. Como os quadrinhos são vistos no mercado Internacional?

Em geral, tanto no fanzinato brasileiro como no mundial, é muito similar a camaradagem de faneditores que publicam HQs de autores do mundo todo para mostrar mais versatilidade e ampliar a rede mundial de trocas de idéias e expressividades artísticas (que é o propósito dos fanzines, que justamente não visando lucro, auxiliam nesta fraternidade em que não se objetiva a competição). E tudo, lembrando, antes da Internet. Mas com o advento dela, também se migrou para zines em pdfs, ou blogs (uma mescla, a meu ver, de um fanzine mixado a diário pessoal). Os quadrinhos, décadas passadas, não eram muito bem vistos no mundo todo, com certa exceção à França, mas principalmente ao Japão, cujo preconceito lá era o menor (a meu ver, porque o ideograma, por ser desenho, mantinha o mesmo valor conceitual que o quadrinho, diferentemente para nós e a letra fonética ocidental, que era tida como de maior importância, em detrimento ao desenho). Porém, tudo foi se modificando, e na atualidade, mesmo no Brasil, os quadrinhos são melhor valorizados (como os fanzines), mas graças, claro, à ampliação de pesquisas na área (contrariando a visão política atual brasileira em que se desvalorizam a pesquisa e a universidade). Assim, embora os mercados de HQs no exterior (EUA, Europa e Japão) sejam grandes, o fanzinato ainda existe como uma espécie de válvula necessária para todos aqueles que desejam se publicar e com liberdade, sem esquecer o que eu disse: com fraternidade!


4) Qual  a diferença, na produção  de material underground, antes e depois do advento da internet?

Tal qual o disco de vinil, que no Brasil foi escorraçado durante o advento dos CDs, e agora retorna, o quadrinho e principalmente o fanzine, no papel, passa e volta a ter tanto valor (ou mais) quanto o fora no passado. Com relação ao underground não penso ter havido mudança, mas em relação aos temas em geral, parece terem se ampliado, com muito mais autores e agora autoras mostrando suas artes, e os fanzines aparecendo melhor, tanto no papel, como em redes sociais (eu posto alguns fanzines meus no facebook). Mas, claro, ainda penso que no papel eles são mais apreciados, tanto pelos que os leem, como pelos que os elaboram, justamente devido à razão dos zines terem muita afinidade com o labor pelas mãos e com o material físico (papel). Outro fator que se ampliou: feiras e eventos de fanzines, alguns acoplados a eventos de HQs, como o TCAF - Toronto Comic Arts Festival, que tem um anexo para autores de fanzines e independentes e aqui no Brasil, o Ugrapress e a Feira Plana, que trazem publicações alternativas. Desta forma, se pensávamos que os zines de papel sumiriam, ao contrário, aumentaram em quantidade e alcance (muito também graças a quadrinhistas e fanzineiros que adentraram as escolas e faculdades e aplicam aos alunos os quadrinhos e zines).


5) Em 2007 você ganhou o  19º Troféu Hq Mix na categoria de "melhor tese de doutorado" por sua pesquisa  "As histórias  em quadrinhos como  informação  imagética  integrada ao ensino universitário",  defendida na Universidade de São  Paulo. O que esse prêmio  representa para o mundo acadêmico e sobretudo  no mundo das histórias  em quadrinhos?

Como respondi numa das anteriores, as pesquisas vêm aumentando gradativamente no Brasil, acerca das artes dos quadrinhos e fanzines. O pioneirismo vem das décadas de 1970 e 80, mas grassaram as pesquisas de 1990 em diante com muitos TCCs, dissertações de mestrados e teses de doutorado, ajudando, invariavelmente (aliadas às apresentações em congressos) a aumentar o arcabouço de pesquisa e divulgação da importância da 9ª Arte e dos fanzines. Minha tese veio nesta esteira, e descobri nela a justificativa-mór que daria o aval aos quadrinhos: os desenhos são lidos distintamente em nosso cérebro, como arte, impulsionando a inteligência criativa que interage com a racional (que lê fonemas e sequencializa tudo). Os quadrinhos, por mixarem desenhos, narrativas elípticas e textos fonéticos trazem este conjunto que “retroalimenta” os hemisférios cerebrais de uma maneira excepcionalmente amplificada e distinta da exclusiva obtenção cartesiana de informações. E note que o álbum teórico em quadrinhos “Desaplanar” de Nick Sousanis (que já esteve no Brasil num dos congressos de HQs da USP), fruto de sua tese de doutoramento em forma de HQ realizada nos EUA, traz esta teoria de que as histórias em quadrinhos são um estímulo diferenciado e amplificador de uma visão estreitada e tradicional, tal como minha tese trazia (só que antes da dele, e diferenciando-se em que a minha tinha um aporte baseado nas pesquisas da ciência cognitiva realizadas na época, porém sem desmerecer a de Sousanis, que é louvável e que amplifica com outras modalidades de percepção o que eu havia desenvolvido na minha pesquisa). Ou seja, minha tese realmente foi pioneira e veio antes da pesquisa norte-americana e devido ao ineditismo e alcance, teve uma premiação justa e merecida (que aliás, me pegou de surpresa), sem jactância de minha parte, pois só eu sei como sofri para, no terceiro ano da elaboração da tese, chegar a essa “equação” que resultou em meu desvendamento da importância das HQs à mente humana (e em especial como uso para a universidade), e que levou mais um quarto ano para eu melhor desenvolvê-la e finalizá-la – aos trancos e barrancos, incluindo eu lidar ao mesmo tempo com um acidente ocorrido com meu pai que havia quebrado sua perna e em paralelo eu dar assistência a ele!



6) Fale sobre o Observatório  de Histórias  em Quadrinhos da Escola de Comunicações  e Artes da Universidade  de São  Paulo na qual você  é membro.

O antigo “NPHQ – Núcleo de Pesquisa de Histórias em Quadrinhos”, que foi gerado no final da década de 1970 por pioneiros como os profs. Álvaro de Moya, Antonio Luis Cagnin, Waldomiro Vergueiro e Sonia Luyten, e na atualidade denominado de “Observatório de HQ” tem sido primordial para manter a pesquisa dos quadrinhos, em especial na ECA – USP, onde ele se baseia. Reúne pesquisadores reconhecidos, bem como estudantes de graduação e pós, amantes da arte, e de várias áreas acadêmicas (e não só de pessoas da USP, mas de outras instituições). A cada reunião mensal há uma apresentação acadêmica (de alguém que defendeu TCC, mestrado ou doutorado acerca de HQs e afins) e a continuidade de estudo de um livro teórico que aborde as histórias em quadrinhos em que um dos membros apresenta explicando um capítulo do livro estudado. Em meio a isso, houve outros projetos, como o de entrevistas com autores e pesquisadores da Nona Arte (alguns que já faleceram, como Ruy Perotti, na qual esteve presente), dentre outros projetos atuais, como o agora anual Congresso Internacional de Histórias em Quadrinhos. Portanto, um grupo essencial de pesquisa e aberto a todos, sob coordenação do professor Waldomiro Vergueiro.

7) Como andam atualmente  as produções  de HQs no Brasil e existe mercado para esse tipo de mídia?

Não consigo mais acompanhar, faz tempo! Os de super-heróis, eu parei já há anos, só adquirindo um ou outro, pois as peripécias que as editoras fazem para vender têm me irritado muito, pois descaracterizam personagens e fingem dar complexidade, muitas vezes, em roteiros que não têm profundidade. Exceções, claro, principalmente aos autores ingleses como A. Moore e G. Morrison e alguns outros poucos. Não tenho o hábito de ler mangás, pois não aprecio a estética da arte da figura estilizada humana deles (embora goste dos cenários e uso de retículas). Do europeu também vejo uma massificação e embelezamento vazios. No Brasil tem havido um aumento absurdo de títulos e autores e muitos com qualidade, mas também não tenho como acompanhar. Aprecio trabalhos autorais como os do Laudo, Edgar Franco e Henrique Magalhães e vez ou outro cai na minha mão um álbum como a HQ “Carolina”, sobre uma mulher negra que foi um dos grandes fenômenos literários do Brasil na década de 1960, mas desconhecida por nós, em geral. O álbum tem autoria de Sirlene Barbosa e João Pinheiro que chegaram a ser laureados neste ano no festival de Angoulême na França! Dos fanzines, os incentivos de Alberto Souza (o Beralto) com seus alunos do Instituto Federal Fluminense (IFF) que criam HQs e fanzines temáticos e criativos, e o fanzine “Gibilândia” de Roberto Guedes que publica histórias em quadrinhos de autores consagrados, mas inéditas no Brasil, bem como o incrível “QI” de Edgard Guimarães que se mantém excepcional com muitas informações sobre HQs e fanzines e seção de cartas enriquecedoras. Fico sempre atento para conhecer algum fanzine ou HQ alternativos de novos autores em que vejo qualidades ímpares, afora os eventos como a “Fanzinada” de Thina Curtis (homenageada recentemente com seu nome dado à nova seção Fanzinoteka da Gibiteka de Barueri). Mas o que eu gostaria de apontar é a diferença berrante entre as produções atuais e o que havia nas décadas de 1980 e 1990 onde a salvação eram os fanzines: e hoje, com os rumos valorosos atribuídos aos quadrinhos, a facilidade em se publicar e a reverência dada à nona Arte em todas as áreas, não deixam as gerações atuais saberem que tudo estava ao contrário em décadas passadas, com as HQs então desvalorizadas e até tidas como perniciosas à mente humana! É impressionante como tudo se inverteu...mas não se deve esquecer que foi graças aos autores e pesquisadores que foram desbravando e conduzindo suas obras e pesquisas de encontro com preconceitos e desconhecimentos que as áreas acadêmicas e a sociedade em geral tinham. Foi por isto, inclusive, que muitos de nós tornamo-nos pesquisadores também: para ajudar a mostrar que os quadrinhos não eram a mídia maléfica que “pintavam e desenhavam”, e pelo jeito, temos conseguido!

8) O que te motiva  a criar?

Aqui é interessante eu tentar explicar. Voltando a meu passado, lembro que o que me prendia a atenção nas leituras das HQs sempre foi o fantasioso, mas imbuído de reflexão. Na infância, como eu dissera, desenhava dinossauros sem parar, e na adolescência, HQs de heróis. Mas não me interessavam “batalhas” e sim, focos em temas de reflexão. Recordo-me de uma HQ de Jim Starlin com o personagem Motoqueiro Fantasma, em que ela trazia um embate, uma corrida na qual a Morte desafia o estranho herói, que para vencê-la em 3 etapas, precisa usar de rapidez e inteligência, salvando uma criança que a Morte coloca como prêmio e desafio (podem ver mais sobre isso em meu blog: http://classichqs.blogspot.com/2013/03/a-morte-como-premio-motoqueiro-fantasma.html), além de outras HQs, não apenas de heróis reflexivo-filosóficas que eu passei a ler no início da fase adulta, como as de Caza (e filmes de ficção científica, como “2001” e autores como Ray Bradbury e suas “Crônicas Marcianas”). Tudo isto, aliado a livros de ciência quântica e de filosofias outras (e até esotéricas) como o Tao, me motivavam a elaborar HQs poéticas com contextos reflexivo-filosóficas. Mas o fantástico tinha que existir, desde que eu gostava de desenhar monstros, dinossauros, super-seres e mundos outros (o fantástico de novo), e tudo sob audição musical, preferencialmente rock (progressivo e metal melódico). Quanto mais eu gostava das músicas, mais minha mente se comprazia em criar e entrava naturalmente noutro estado semi-alterado de percepção criativa! Assim, ao ouvir músicas, eu ia elaborando as frases e artes concatenando-as desenhadas diretamente à nanquim no papel, até acabar a “obra” - uma HQ/Arte curta em que eu assinava ao final, como uma pintura (pode-se assistir uma apresentação acadêmica minha em que mostro como se dá o processo criativo, aqui: https://www.youtube.com/watch?v=k3d_xuog7Uk). Há trabalhos meus publicados na Editora Marca de Fantasia (“Ternário M.E.N., e o livro sobre minhas obras escrito pelo Elydio dos Santos Neto: “Os quadrinhos poético-filosóficos de Gazy Andraus: 25 anos de quadrinhos e fanzinato”) e pela Ed. Criativo, um sketchbook e o álbum de HQ “Homo Eternus” vol. 1 (já está sendo preparado o vol.2).


9) Epitáfio. 

O que estaria no meu? Algo como “Assim como a criação e a arte se renovam, a vida aqui não morreu, mas transcendeu para outro rumo e plano de (re)criação!”

10. Fale  o que quiser.  Deixa o seu recado. 

Penso que as pessoas estão em níveis distintos de pensares pessoais, e por isto, para cada uma, a vida, estando numa etapa específica, permite-lhes apropriarem-se de uma verdade em que o ser humano pensa sua verdade ser igual a de todas os outros de sua espécie. Mas como os quadrinhos distintos que perfazem sequencialmente uma única história, porém de requadros desenhados com cenas em continuidade, cada “verdade” de cada pessoa (ou seja, de cada quadrinho) é fechada e real em si mesma, podendo ser distinta (como a imagem desenhada o é) da do outro humano (ou quadrinho), mas que pode e deve se completar com cada uma das “verdades” de cada um dos quadrinhos seqüenciados que aparecem na página, na história, como um todo (e que representa, cada pessoa/quadrinho, uma verdade distinta coligada à verdade de todos. Aliás, o mesmo se pode pensar dos estilos distintos de desenhistas que perfazem uma HQ: são diferentes suas “verdades” de estilos, mas válidas, todas!). Por isso, a “verdade” não é uma só e nem inteira por si mesma, já que estamos todos juntos (e separados) completando um planeta, com as variações que temos em todas as áreas. Desta feita, ninguém possui a verdade per si completa, necessitando, ainda que não saiba ou não perceba, da outra verdade (do outro) e do outro e do outro, sucessivamente, perfazendo, tal qual uma página de HQ com os quadrinhos, as verdades, unidas se coadunando e deixando um entendimento mais amplo e rico (como numa história em quadrinhos inteira). E percebermos isso é o ponto-chave importante e essencial, dirimindo preconceitos e construindo um “quadro” (uma HQ, uma revista) rico e completo. Do contrário, cada quadrinho se pensará completo como uma única HQ, mas que não demonstra as “cenas” em conjunto, falhando como um todo e se pensando suficiente (mas não o sendo, a menos que seja lida a HQ inteira). O mesmo nas nossas vidas: todos vão se completando e tecendo uma teia mais complexa e rica em simultaneidade (assim também o sendo na pesquisa, confirmando como exemplo desta metaforização explanada, a valorização dos quadrinhos, que foi finalmente desenvolvida e agora apreciada em maior escala pela área acadêmica e social, graças a cada “verdade” de cada um dos que os pesquisaram e uniram seus entendimentos, dando uma forma ampla, complexa e inteligível a que todos pudessem perceber melhor a real qualidade das histórias em quadrinhos). O mesmo se pode aplicar à vida em geral. É isto!

Abraço e grato pela entrevista, na qual pude recompor minhas idéias e atualizá-las!
Se quiserem ver sobre minhas pesquisas e artes, basta entrarem neste link: http://tesegazy.blogspot.com/. Instagram: https://www.instagram.com/gazyandraus/ e facebook: https://www.facebook.com/gazy.andraus
E para contato: yzagandraus@gmail.com
Gazy, Goiânia-GO, início de maio de 2019.
Pesquisador e membro do Observatório de HQ (USP) e ASPAS - Associação dos Pesquisadores em arte Sequencial; INTERESPE-Interdisciplinaridade e Espiritualidade na Educação (PUC/SP) e Criação e Ciberarte (UFG). Autor de HQs e Fanzines de temático fantástico-filosóficas.



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