(Por Diego EL Khouri)
Robisson Sete, músico e poeta, autor do livro “13 poemas ácidos no bolso da calça”, lançado em 2009. Nessa entrevista fala de poesia, música, arte, num papo envolvente e direto.
Quando exposto a arte você nunca sai imune ou ileso. Não há maneiras. A arte é um revólver engatilhado de idéias e subversão, duplos sentidos e possibilidades.
Robisson Sete
Dentro do contexto artístico, humano e filosófico, quem é Robisson Sete?
Bom, Diego, sou escritor. Por isso estou aqui falando contigo.
Numa linha um tanto marginal e contundente, sua poesia conduz o leitor à uma espécie de êxtase, se apropriando desde o humor, ao nonsense e até mesmo o inconformismo social numa poética única e visceral. Pra você, poesia é serviço de utilidade pública?
Poesia é o não ato, o insight, a mudança, o retorno, a surpreendência, o Leminski falava um lance assim, de que a poesia é a inutilidade, o gol, o gozo, um jogo. Poesia é prazer né. Coisa que precisa existir simplesmente por ser algo seu. Algo necessário pra vida. É útil e é pública, sim a poesia.
Como anda a cena alternativa em Minas Gerais?
O alternativo hoje já é um termo que tem uma nova conotação, não é mesmo? Alternativo ao que né? Se eu quiser de agora em diante fazer uma festa alternativa latina muito louca todo mês e me divertir, pra quem eu sou alternativo se o que faço pra mim é cotidiano? Entendeu? E não me importar com a mídia maior ou com a cultura de massa imposta, eu posso viver realmente hoje convivendo com uma cultura dita alternativa mas que existe fortemente na cultura do país certo e com outra que possivelmente seria intitulada mainstream, ok? Por isso eu não reconheço mais o que seja alternativo em termos de música de arte. Tudo é possível. Toda arte só precisa estar no lugar certo na hora certa. Hoje vivemos a transmutação do real em digital, é aquela parada de star trek que eles se transportavam, sacou? Só que agora nós estamos ligados em rede sem sair do lugar. E vejo que há em Minas uma produção muito grande quando se fala de teatro, de grupos regionais de cultura regional, que são congados, as folias. E há também toda essa nova movimentação que tange um novo meio de discutir as relações entre mercado, artista e público. Hoje não existe mais o alternativo, se tu quiser é só por a “bunda na janela”, e pá! Logo logo alguém vem e passa a mão, e depois outro e outro e sua bunda começa a ficar conhecida, pelo menos no quarteirão da sua rua (risos). Então hoje o artista se auto gesta muito melhor e consegue ter mais facilidade em se movimentar. Mais tecnologia a custos melhores e mais baixos.
Músico voraz e poeta visceral. Por quais caminhos mais trilham sua arte?
Escrevo, componho, canto. Minha tríade. No final de tudo, interpreto alguns dos poemas ou músicas. E é isso. Coisa simples. Nesse 2011 vou escrever um ou dois roteiros para curtas com um amigo meu de orelha. Fazer videopoemas meus e de outros autores e organizar um pequeno evento pra tudo isso, além de escrever meu próximo livro. Hoje estou muito produtivo, escrevendo bastante e publicando no Hotel http://www.hotelsete.blogspot.com/, na coluna da Página Cultural http://paginacultural.com.br/author/robisson-sete/ e no Bar do escritor www.bardoescritor.blogspot.com também.
Fale sobre a série “Poemas visuais de banheiro”. Qual era o intuito dessa exposição?
A idéia é levar a literatura a lugares inusitados, a lugares onde ela possa ser surpreendente ao leitor. O banheiro de nossas casas muitas vezes é o espaço onde a privacidade na casa familiar, se divide, e tem ali um dos lugares onde se lê, sentado no seu trono certo. Já os banheiros públicos são mais escrotos,e o que se lê lá são os telefones de michês e putas e poemas búcolicosexais para primas, e enfim. Então fizemos, eu, Alberto Ju e Art Atack, a série de poemas, em adesivos no formato clássico dos azuleijos brancos de banheiros e eles existem agora em vários bares de Uberlândia. Quero levar pra mais lugares esse ano, outras cidades. Há uma escritora de Brasília, Marina Mara, que faz um trabalho que transa também com a literatura nos banheiros. Nos conhecemos há algum tempo. Enfim, os banheiros sempre foram lugares atrativos e secretos para o homem,a privacidade das partes íntimas, as conversas e insultos velados, os banhos, a nudez, o corpo, o infecto, o mal cheiroso, o podre, a doença, o desgosto. O banheiro carrega tudo isso.
A banda Juanna Barbêra, que você fazia parte, tinha uma pegada muito influenciada pela psicodelia com um som totalmente experimental misturando vários ritmos e culturas diversas. Inclusive, por exemplo, utilizando máquina de escrever como instrumento musical. O que levou a banda a acabar e quais seus novos projetos musicais?
Hum... a banda acabou porque é casamento sem sexo (às vezes, risos) de 6 pessoas, sacou? (mais risos) Tem hora que é foda mesmo. E bola pra frente. Hoje ta todo mundo com novos projetos, pessoais e profissionais. Vejo todos da banda por aí, hora ou outra, somos amigos e a banda já era, fica na memória. Talvez a gente mexa no vídeo do show de lançamento, que nós nunca assistimos. Vamos ver. Meus projetos musicais hoje são me aperfeiçoar em tocar caixinha de fósforo pra montar uma banda de roda de samba, pra tocar sentado, beber e comer, com um monte de gente cantando de óculos escuros.
A arte pode salvar?
Sim, pode. Mas depende do que né. Aí isso já vejo muito pessoal, sabe. Arte é comunicação. Acho que hoje em dia a música ainda é algo que prende as pessoas a um mundo lúdico. Porque é matemática. E é inteligência rápida. A música são emoções captadas de formas diferentes por nós, cada um gosta de algo e tudo é bom. E mercadologicamente mesmo, se você falar prum cara que curte aí em Goiania, uma música sertaneja ele adora aquilo e pronto e é bom pra caralho. Pra ele tem de ser assim, porque se todo mundo adorasse o Scorpions também ia ser um mundo foda. Mas enfim, a arte salva no sentido da comunicação, quando exposto a arte você nunca sai imune ou ileso. Não há maneiras da experimentação e do olhar, não te tocar e transmutar algo. Arte é um revólver engatilhado de idéias e subversão, duplos sentidos e possibilidades.
Você que é ao mesmo tempo músico e poeta, o que tem a dizer dos críticos que encaram a poesia cantada inferior a escrita?
Penso justamente que não há pra mim essa dicotomia, essa contramão. Mas a pergunta seria, pra que escrever poemas? Hoje em dia pra quem escrever poemas? Pra quem? Seria mais fácil ou melhor escrever jingles ou anúncios de amaciantes n’alguma agência de final plus. Porque o que quero dizer finalmente é que a poesia é uma manifestação da arte em si, e não apenas da expressão lingüística que chamamos poesia transmitida através do veículo poema e feita pelos ditos poetas. Porque muitos poemas de muitos poetas, simplesmente não tem poesia, tem somente forma e conteúdo. Poesia é algo que existe, na comunicação, no outro.
Pensa como Glauco Mattoso, que “Poesia é para um pequeno círculo de apreciadores meio pirados, meio sonhadores, meio iluminados”?
Ah não sei. Poesia é êxtase. Isso todo mundo sente uma hora ou outra por isso ou por aquilo, eu acho. Agora os verdadeiros poetas, esses são pouquíssimos. Isso é verdade. Eu sou escritor, com certeza. Apenas.
Nota-se claramente que sua poesia dialoga com várias escolas literárias. Uma bastante presente é a beat generation. Ainda vivemos sobre o signo da contracultura? Por que?
Bicho (risos) acho que hoje vivemos outro tempo, certo? A contracultura como conhecemos dos anos 60 , ficou por lá, com seus signos e sua importância. Hoje vejo que um novo perfil e apropriação da idéia de contracultura vem a tona. Como os coletivos de arte e produção, onde as pessoas se reúnem em prol de objetivos comuns, e vejo também que a discussão sobre meio ambiente e sustentabilidade, algo que seja mais ecológico em várias áreas da vida, é também um resquício das idéias dos anos 60.
Fale sobre seu primeiro livro, os "13 Poemas ácidos no bolso da calça"e como conseguiu publicá-lo.
Lancei em Junho de 2009, de forma independente, ou alternativa (risos). Escrevo desde moleque e em 2007 montei um blog pensando em publicar meus textos que estavam há anos nas gavetas e coisas novas também. Um tempo depois, escrevi alguns projetos para as leis de incentivo, e fui aprovado pela municipal. Aí veio o processo de elaboração do livro, que foi muito louco mesmo. De aprofundar nos textos e nos poemas e pirar com outras pessoas, lendo e chegando a conclusões. Escolhendo títulos, definindo os trajetos dos capítulos. Há no final das contas muitas pessoas amigas que existem nesse livro, sabe. O livro é dividido em três capítulos, que são o dia, a noite e a madrugada, e existem ótimas ilustrações da artista Bárbara Figueiredo em cada um deles. Participei de algumas festas literárias e acabo de voltar do Rio (RJ), onde fui selecionado na Bienal da UNE. Pretendo esse ano fazer alguns vídeos sobre um ou dois poemas e encontrar uma editora para o livro. Ele pode ser baixado nesse link:
E lido na editora virtual Bokesshttp://www.bookess.com/read/5051-13-poemas-acidos-no-bolso-da-calca/
Diga qualquer coisa agora. Mete bronca!
No dia do meu casamento vou querer que o padre diga algo assim: em nome do amor eu vos declaro rima e verso; flor e beija flor: pode beijar a noiva.
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