segunda-feira, 18 de julho de 2011

IVAN SILVA, O SR. MALZDREAMS

(Por Diego EL Khouri)
Devassando a cultura alternativa, entrevistei dessa vez, Ivan Silva, o poeta, cartunista e baterista da banda de rock Malzdreams.



A CAUSA DO EFEITO (Ivan SIlva)

Quanto mais doença, menos tragédia.
Poesia é alegria, poesia é comédia.
Ficar doente é ter sintomas.
E quanto mais doença: mais sintomas,
                                  mais tristeza,
menos saúde,
menos tragédia,
menos alegria...           Menos poesia.
Poeta, músico, desenhista, empresário e chargista. Além disso tudo, quem é Ivan Silva?

O filho de um pai que é pedreiro e o filho de uma mãe que lê a bíblia. O irmão de três irmãos que já compõem famílias e o irmão de um irmão que surpreende. Enfim, Ivan Silva é o caçula!

Quais foram os sintomas que te levaram à "doença" chamada poesia?

Os sintomas que me levaram à poesia são os sintomas que não me deram trabalho. “E quem não for poeta que questione!” Mas será possível chegar à poesia de uma forma saudável? Sem se sentir um sintoma? Uma infecção? Ao sair do corpo poético, ao entrar no corpo patético. “Ser poeta é se dar ao trabalho”– e esse é um sintoma de quem fala mais alto: poesia?

Ser artista num país de Terceiro Mundo é algo complicado. Tendo moradia num interior de um estado longe do eixo Rio/ São Paulo maior ainda. Como acreditar nessa coisa “inútil “ e prazerosa que é a arte?

A maioria da pouca gentalha se inclina para esse lado de que é preciso resistir, agüentar, suportar, ter fé (na arte). Enfim, existe toda uma montanha rochosa só para que essa maioria a escale como um bode velho. Onde nasceram?—Embaixo. Por isso a montanha, ou a arte, torna-se útil. Já para o ser novo, que não se acha um bode e nasce lá em cima, a descrença é total. Pois é ele que perde o título da minoria: uma medalha, um valor, um amuleto... Como desculpa—é que ele tem medo de altura e precisa descer aos poucos. Mas parabéns a ele! Que vai para o quarto dos mundos deixando lá em cima uma reflexão de terceiro. Sabendo que enquanto desce pela garganta vulcânica, a minoria se joga atrás do amuleto.

A exclusão que sentiu na pele na infância hoje é um dos elementos primordiais de sua arte? Por que?

Sim. Talvez por isso o “hélio com peido” no meu primeiro cartum: o cartumanal. Talvez por isso o “eu não sou um gênio”, comigo sentado na boca do vaso. Talvez por isso o “então aproveita e caga”. Porque eu fazia o que os professores pediam. Para eles sim, eu era o gênio. O aluno aplicado. Já para o corpo estudantil (e eu era a vergonha da turma) isso queria dizer: Ele está roubando a nossa cena!




Às vezes fico analisando sua composição artística e psicológica e reparando na sua obsessão de aprender instrumentos musicais novos e diversos numa busca também em se aperfeiçoar como músico. E é justamente, creio, esses estudos intensos que o faz levar a quase não sair de casa. Cheguei a conclusão, talvez erroneamente, que seu quarto é seu símbolo maior. Estou errado? De que forma você cria arte?


Sim, você está errado. Essa colocação feita de “quarto como símbolo maior”, talvez tenha sido um erro fatal. Pois analise em qualquer lugar. Por exemplo, na sua casa. Depois analise no serviço. Depois analise no ônibus... O que você vê não importa, não é verdade? O que você sente não importa. O que você fez já não importa. A sua obsessão em descobrir o que foi que te levou a isso vai te levar aquilo. A sua busca que te levou a loucura, vai te levar a sanidade. –Dessa forma (se eu crio arte), ficar no quarto é um símbolo menor.


A vida é um cárcere ou os poetas estão sem ação demais?


Em relação à morte a vida é um cárcere. —Mas não! Na liberdade se os poetas estão sem ação demais é porque eles se consideram livres, vivos, desenterrados a todo momento! E não sabem o significado da palavra fugir.




Quais os livros que você indica, e nos fale de suas referências literárias.


São dois: As flores do mal (Baudelaire) e A gaia ciência (de Niezstche, O alegre saber). Tendo em vista a imaginação... —Mas que tipo de relação há entre a interminável Revolução francesa e a velha Cultura alemã?—Nenhuma. Está tudo tranqüilo. O que reina se chama paz, e não há quem possa fazer o papel de diabo sem colocar o cetro nas mãos da Igreja. O povo pobre não se prepara para a Guerra. O povo pobre não se prepara para a riqueza. Porque não há sequer, um maldito é o fruto do vosso ventre. Não há sequer, um mensageiro infeliz. Não há sequer, uma palavra à ser decifrada...


Quais suas influências musicais?


Frases que foram mal digeridas pelo homem, e que no período gestacional das mulheres, não foram consideradas “o fruto dos desejos”. –Eis uma frase para eu me expressar melhor: Após a alegria, talvez alguma mulher me entenda.


De que forma você vê o amor e ele sempre será parceiro da dor?


“O amor está além do bem e do mal.” *Friedrich Niezstche.
E isso, para mim significa: O amor está além da marretada. –Na boa dor de cabeça.


Qual o show mais emocionante de sua banda?


Depois de entender o coração da música?—Todos.


Um dos guitarristas do Malzdreams saiu sem um parecer preciso. Agora o baixista e vocalista (além de ser seu irmão) vai morar no Rio grande do Sul. Com essas perdas todas, quais os caminhos que você vai tomar como músico?


Com essas perdas todas não. No caso do meu primo (o guitarrista) até que foi: pois é uma pena você perguntar a uma pessoa desse tipo, o porque de sua saída repentina e ela praticamente responder: “É que eu não tenho mais paciência pra isso”. –Quer dizer: “Mas que caminho é esse? Será que lá, no fim, algo espera por mim?! E aí, do outro lado uma coisa brilha deixando visível tudo aquilo que a gente perdeu. Mas olha só! Ali está a minha paciência. E precisa ser reconhecida! Mesmo desfigurada! O quê? Mas isso que brilha não é o sol? Sim, é o sol. E eu sei que algo espera por mim. É visível. Pois quanto mais um ser se afasta do sol, menos vida esse ser encontra...” Para ouvir aquela música, não era necessário, mas era preciso olhar na direção do sol. Fechamos os olhos, e, ao invés de ficar tentando ouvir aquele solo, fomos para o espaço. Já na mudança do meu irmão—ainda de olhos fechados, ouvimos a essa música: “Mais um dia sem nome”. E eis o caminho que tomo: O coração da música só bate quando já está em pedaços...


O que te levou a abandonar o blog a mais de ano?


Vejamos: no dia x do mês x do ano de 2000 e x eu tinha levado uma pancada na cabeça. E ainda por cima estava doente—nada de insuportável. Isso durante o dia. À noite, a história era outra: pesadelos, alucinações, febre, delírios, morte. Morte? Eu estava sendo levado. “Pá!” Mas aí algo me trouxe de volta (desagradavelmente). Provavelmente outra pancada na cabeça. Depois disso, eu comecei a ver e a escrever os personagens que iam surgindo. Cada um com a sua beleza própria, cada um com a sua arte, cada um com sua crença, cada um com a sua descrença, enfim, cada um com a sua moral. O peculiar é que quanto mais eu escrevia mais tinha vontade de parar. Beleza!—Eu era também um personagem e precisava ser discreto até ao entrar num banheiro: escrevi. Escrevi. Escrevi, escrevi, escrevi. Escrevi e no entanto o papel acabou. Aquela angústia, a vida, o blog, me consumiu, me destruiu. E depois me levou na conversa: Uma forma estranha de continuar a escrever.


Seu sonho em relação a arte.


Falar mais do que não me espera: a escuridão interior...

Nenhum comentário:

Postar um comentário