domingo, 10 de julho de 2011

WILSON S D'ART

(Por Diego El Khouri)



Esse é Wilson Serafim Duarte ou Wilson S D´art, tanto faz. Grande artista, exímio cabeleireiro e jogador de xadrês. Depois de ver suas poesias vivas dançando na tela de seu computador resolvi entrevistar essa grande alma que tem um senso crítico em relação a vida e a arte muito peculiar e interessante. Aí vai, se segurem na poltrona e peguem a pipoca:


Poeta, artista plástico, cabeleireiro, jogador de xadrez. O que mais agrega em sua personalidade que ninguém ainda não notou?
Minha família é Duarte, o que significa que eu nasci com a arte de família. Meu pai é músico, isso ajudou bastante a influenciar minha vida. Meu pai é Seraphim Duarte Netto, um leitor de livros e um grande sábio. Sempre me incentivou a ler e estudar, não por obrigação e sim pelo prazer. Tudo que eu não sabia eu perguntava a ele e sempre me respondia com sabedoria. Comecei um curso superior de psicologia em 2001 não concluindo por falta de recursos. Bem, se Machado de Assis foi auto didata eu também posso ser. Daí pra cá comecei a estudar tudo que vinha em minhas mãos. Esse é um dos motivos que me fez estudar o complexo da mente humana. Fiz curso de grafologia, quiromancia, numerologia, métodos de hipnose, feng shui, para entender melhor a mente humana. Fiz também taquigrafia; no cinema sou roteirista, maquiador de efeitos, auxiliar de vídeo, aux. de som, diretor de set, além de atuar como ator. Participei do movimento artístico reflexão e sentimentos (em Goiania), e na fundação da academia Goianirence de letras da qual a Dona Alma Marinone era a presidente e fiz oficina de arte, literatura, teatro entre outros.
Como é viver em um país de terceiro mundo, onde não se valoriza a cultura, ainda mais se encontrando incrustado no cerne de uma cidade do interior de Goiás longe do eixo Rio/ São Paulo?
Bom, é bom, pois tenho a oportunidade de fazer a diferença. Há um termo melhor para definir o Brasil que  é chamado de BELOUINDIA, de um eixo Rio/Sampa onde há uma grande valorização da arte em si. Onde o deslumbre do perfeito, do correto, do certo enche os olhos de qualquer artista ao ponto de se imaginar que estaria  na BÉLGICA, na Europa. Por outro lado sou um artista como muitos, a qual deixou a arte como robby e partiu pra luta pela sobrevivência numa verdadeira INDIA onde os interesses por arte são escassos e as autoridades responsáveis desviam as verbas destinadas à cultura alegando sempre que não há recursos. Eu sou cerrado que resiste às intempéries da sociedade no meio do sertão brasileiro. Sou periferia de um lugar periférico, sou um guerreiro que posso até perder a batalha, não a guerra.
Defina poesia.
Poesia é a arte de expressar, de manifestar os diversos afetos dos sentimentos d´alma mediante as palavras, e estar dividido em: tema, reflexão, inspiração e transpiração que se subdivide em: texto, contexto e intertexto.A vida é arte!
Você sempre associa seu amor pelo xadrez como uma prática totalmente filosófica. De que maneira se deu essa paixão e o que ela proporciona para você e as pessoas em geral além do simples prazer de jogar?
Sou enxadistra desde 1998. Antes, porém eu já havia ouvido falar de xadrez como algo que só os intelectuais filhos de doutores, reis e príncipes, ou seja, um jogo praticado pela elite, e que não poderia ser divulgada nas classes menos favorecidas como a minha, por exemplo. Eu sou do povão e quando eu aprendi verifiquei que o xadrez era algo fascinante e que  aumenta o raciocínio, o julgamento com verdade. Detalhe, não é jogo de azar, pois não utiliza sorte; modificou completamente meu modo de enxergar as coisas da vida mostrando sempre o detalhe, a simplicidade, o branco no preto e o preto no branco a tão ponto que montei com recursos próprios um projeto de ensinar nas escolas o xadrez e aqui em Goianira completou 10 anos do projeto de xadrez com mais de cem tabuleiros distribuindo gratuitamente e mais de duzentos participantes, dos participantes fizemos um clube de xadrez, com os participantes do clube de xadrez fizemos um ciclo cultural e filosófico e político (no sentido de conscientizar os jovens.).
Nessa época totalmente mecanizada e tecnocrática, crer em arte não seria um ato quase de santidade?
Crer em arte ou é santidade ou insanidade. Veja bem, eu moro em Goianira que fica a 20 km de Goiânia, com uma população que não acredita em arte. Digo isso com veracidade. Fiz um teste. Coloquei em meu estabelecimento um quadro de um pintor local chamado Edu França que tem o estilo de pintar casario antigo e outro de outro pintor local chamado D´mark, uma tela cheia de peixes, uma arte moderna. A maioria admira o casario de Edu França e criticam a outra tela.
Você, junto de outros artistas, tentou criar a Academia Goianirence de literatura. Por que não deu certo e o projeto morreu tão prematuramente?
Tentamos sim criar a Academia Goianirence de Letras. O que acontece é que não houve consistência por partes dos integrantes. Na época fizemos um informativo da Academia chamado “O SEMANÁRIO” que saia a cada quinze dias e depois uma vez ao mês. Dona Alma Marinone então presidente da AGL fazia as reuniões em sua residência. Por ela ser excêntrica tinha uns duzentos bichos. Imagina o odor que é os dejetos de todos esses animais dentro e fora da casa. E outra coisa. No informativo ela começou a colocar receita de pão, aulas de inglês e até bordado, fora isso tudo o grande problema foi o estatuto que não achou um consenso comum.
Quais são suas referências literárias e artísticas?
São: Primeiramente quando se diz a respeito de arte Leonardo da Vinci é uma figura histórica rica de detalhes e  isso me chamou muito a atenção. Também na Europa temos nossos irmãos portugueses. depois de regularizar a terra de santa cruz eu gosto desde literatura de informação como as cartas de Pero Vaz de Caminhas, até Luis de Camões, Fernando Pessoa, Casimiro de Abreu, Álvares de Azevedo, Raul Pompéia, Cecília Meireles, Oswald e Mario de Andrade, Carlos Drummond de Andrade, Clarisse Lispector, Malba Tahan. Além das bandas da década de oitenta que são: Para Lamas, Lulu Santos, Kid Abelha, Ritchie, Engenheiros, Barão Vermelho, Titãs, Legião, Camisa de Vênus, Ira!, Plebe Rude, Ultraje, nenhum de nós, entre outros.
Você sempre fala sobre a alienação e covardia de alguns artistas na época da ditadura e da coragem de outros. Fale dessa época tendo como parâmetro a arte.
Eu não vivi esta época na íntegra, mas me lembro do final deste período que marcou muito minha vida. Na época de 1980 eu tinha apenas 06 anos de idade e já sabia o que é não ter liberdade de expressão. Era uma época difícil. Hoje temos nossa liberdade de expressão, o direito de ir e vir e, no entanto nos esquecemos do sangue derramado durante 20 anos por jovens que morreram por um ideal que hoje são heróis ocultos. Basta observar o que andam dizendo sobre o que é arte. Hoje a arte é comercial, um enlatado que é empurrado ouvido adentro, sempre a mesma coisa, uma arte sem motivo, sem sabor, sem cor. Naquele período ditatorial as mensagens subliminares regiam as músicas, o teatro, o cinema. Os receptadores entediam os significados e agiam debaixo das barbas dos militares. Havia vários movimentos artísticos no Brasil. Do sul do país ao norte, do centro-oeste ao nordeste. Por isso que a geração 80 foi o rompimento na historia deste país. De vinte anos para cá o que vimos o que estamos vendo e ouvindo é o final de um ciclo, um elo dentro da história. Faltam apenas alguns segundos para o ano novo. Aos heróis ocultos da ditadura, àqueles que morreram em um sacrifício por nós, por nossa liberdade vamos juntar nossas forças e lutarmos contra a falta de qualidade na arte em geral e fazer jus a todos aqueles que perderam a juventude em prol dessa liberdade. Vamos fazer jus a verdadeira liberdade.
Acredita na inspiração divina para se produzir arte?
Na verdade o que há é a vontade de produzir a arte com qualidade, que seja comercial, mas que tenha teor. Eu escolho um tema, a partir deste tema eu estudo, procuro maior quantidade de informação possível, faço um esquema de comparação sobre o mesmo tema, vou apurando até sonhar com o tema escolhido, eu me apaixono pelo tema, faço minhas orações, peço a Deus inspiração. Então é isso.
De que forma você chegou à poesia?
Em 1988 eu fui morar com meu irmão mais velho e trabalhar com ele em Goiânia. Na época eu fazia sétima serie, eu tinha treze anos de idade, já olhava às meninas de forma diferente, minha libido já estava atuante, eu já fazia minha barba com navalha e masturbava todos os dias. Da minha turma só tinha cinco garotos e trinta e cinco garotas, umas sete garotas para cada garoto. Eu via que as meninas da sala tinham diários, caderno de pergunta. coisas daquele tempo. Eu sentia vontade de fazer um diário também. Comentei a respeito pra minha cunhada Carmelita e ela me mostrou sem querer uma forma de escrever um diário sem ser diário, onde eu poderia escrever sem citar nomes, colocar minhas idéias, meus pontos de vistas. Depois minha cunhada me deu um livro de Vinicius de Morais e outro de Fernando Pessoa. Livros de sonetos. Tentei fazer sonetos e não gostei. Depois aquele negócio de rima certinha eu não gostei. Comecei a ver Pablo Neruda. Aí sim eu me apaixonei por poesias. Já estava no secundário quando comecei a estudar a literatura brasileira. Em 1996 a professora de literatura lançou um desafio para o  pessoal da classe: fazer um trabalho de literatura, escrever um livro até o final do ano letivo. Assim eu montei meu primeiro livro de poesia chamado Correntes Literárias. Hoje tenho um projeto para um livro chamado Ellos de Convergências.
E existe algum espaço para expor suas obras?
Não, nunca tive esta oportunidade. De 2009 para cá que eu tenho mais oportunidade de divulgar minha parte artística. Tenho um blog onde coloco o que eu gosto. Piadas, comédias, poesias, fotos, desenhos. Aquilo que eu gosto e é interessante.
Fale sobre suas pinturas.
Eu tenho muitos amigos que são artistas, entre eles se destacam Roni pires que também joga xadrez, N. Lira que é o Dom Quixote do século XX ,Gabriel Machado que é santeiro grande escultor de cerâmica, Luciane Santos que foi a presidente da associação dos artistas e artesões de Goianira (SOL ARTE),outro amigo que também contribuiu para minha formação é o Edu França. O  mais famoso de meus amigos  talvez seja o mais simplório deles que é o Papas Stefanos, o grego que mora em Goianira a muitos anos. Cada um deles tem sua particularidade que de uma forma ou outra me ajudou. Meu estilo de pintura é mista. Eu pinto por amor a arte. Faço composição em abstrato natural dentro dos padrões do fhi, que é uma progressão divina. E gosto também de super heróis, já pintei o Homem Aranha e Wolverine, entre outros, é isso.
Pra arrematar:
Eu sou Wilson Serafim Duarte, filho de barbeiro e de costureira. Aprendi o ofício com meu pai. Também sou barbeiro, nasci em Goiânia, capital de Goiás e moro em Goianira desde 1986. Aqui fiz minha residência, aqui que eu escolhi para representar não somente como um barbeiro profissional, mas, também como múltiplo artista que sou. Como diz o poeta, não sou feliz e nem sou triste, sou apenas artista.

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