quarta-feira, 20 de julho de 2011

LAERÇON BLUES MAN


(Por Diego EL Khouri)


Na constatação filosófica de Schopenhauer a arte opera como uma espécie de redenção e só nela reside a felicidade total. Laerçon Blues Man é assim, um artista que vive a arte em sua total plenitude, transpondo de sua mente para o papel todas suas inquietações, desejos e sentimentos. Nessa entrevista ele fala de suas obras, política, mundo virtual, família, mercado, sempre com a clareza que é sua marca principal.

Laerçon Blues man, grande artista  atuante da cena alternativa nacional, em uma de suas próprias definições você afirma que não é de forma alguma desenhista e  sim “cartunista underground sem diploma”. Qual seria então a diferença principal entre o  desenhista e cartunista?

O que eu passo com isso é apenas uma opinião particular e talvez nada tenha a ver com a realidade. A diferença em si fica apenas no fato de que um cartunista trabalha mais com a alma em seus trabalhos e somente com um pouquinho das técnicas “acadêmicas”. Imagino que o “desenhista” propriamente dito abusa mais das técnicas e virtuosismos gráficos em seus trabalhos. O cartunista underground em sua maioria nunca passou numa escola de desenho e não se importa se o seu desenho saia um tanto quanto torto e até meio que desalinhado, eu mesmo nunca uso régua nos meus desenhos (nem pra fazer os quadrinhos), uma vez me perguntaram por que eu não usava régua nem pra fazer os quadrinhos, respondi que o uso da régua fazia os quadrinhos saírem certinhos.


Em várias de seus cartuns, se utilizando  de uma linguagem simples e às vezes até “ingênua” porém contundente, você se revela um conhecedor profundo da alma humana trazendo além disso em si um sentimento de amor e respeito em relação a questões ambientais. Você acha que a arte tem o poder de mudar uma realidade?

Eu não sei se a arte tem o poder de mudar a realidade, mas que faz as pessoas pensarem isso faz, eu procuro passar tudo isso de certa forma em meus trabalhos sem com isso usar dos discursos panfletários chatos. Quanto a alma humana eu não sou um profundo conhecedor, mas espiritualista que sou ando lendo muitos livros e observando a anos tudo o que antes eu não observava nos humanos. Apesar de que de vez em quando eu pego duro com a raça humana (principalmente nas historias do pato de botas), eu sei que somos ainda seres em fase de aprendizagem e ainda vamos errar muito e tomar muito na cabeça para aprender as coisas direito.

De que forma surgiu o personagem Pato de Botas?

O pato de botas surgiu nas minhas historinhas a mais de dez anos, eu precisava de um personagem do reino animal então o criei. Algumas pessoas pensam que o nome Pato de Botas tem alguma coisa a ver com Gato de botas, mas não tem nada a ver uma coisa com a outra. Com esse personagem eu passo a idéia de quem tem uma visão critica  do ser humano na ótica de um pato, esse mesmo pato que fala com tudo que aparece em sua frente animado ou inanimado. Na verdade é mais um veiculo que tenho de usar o personagem para falar um pouco ou quase tudo do que penso a respeito da existência, da vida, do ser humano e toda essa problemática que temos atualmente.


Você abandonou o fanzine impresso  para se aventurar no mundo virtual. Acredita que o livro cada dia mais vai perder seu espaço para a internet?

Claro que não. Quem gosta de livros (e eu amo), jamais vai abandoná-los por causa da internet. A internet é muito boa para pesquisas, informações, trabalhos etc, mas nada substitui um bom livro no qual você tem todo aquele prazer de folhear página por pagina, levar onde quiser é tudo um prazer diferente. Tudo bem que um notebook você pode levar onde quiser, e hoje temos até uma tecnologia “esquisitinha” de livros digitais, mas imagino que isso ficará a parte, o livro sobreviverá ao lado da grande rede do mesmo modo que o radio sobrevive até hoje ao lado da televisão. Eu parei com meu fanzine de papel e fui para a internet porque não estava agüentando mais gastar tanta grana com os fanzines distribuídos via correio, eu fiz isso até quanto pude, quem sabe um dia eu volte? Na verdade nunca disse que abandonei definitivamente, somente dei um tempo (...)

Qual sua opinião sobre política hoje?

Política é um assunto sempre muito complicado, sou a favor da democracia em todos os sentidos como, aliás, deve ser. O que me deixa decepcionado são as mazelas políticas que vemos num crescer incomensurável no decorrer dos anos. Não tenho um partido político de preferência, eu voto sempre na pessoa que eu acho que mereça o meu voto, acho também que o voto deveria ser facultativo, aí sim iríamos exercer a nossa tão decantada cidadania. A política brasileira hoje ainda deixa muito a desejar no meu ponto de vista, mas eu ainda não perdi a esperança e torço para que um dia tudo isso melhore.

Há algum incentivo para o cartunista brasileiro divulgar suas obras?

Quem faz o incentivo é o próprio cartunista, na época efervescente da fanzinagem era assim a gente divulgava os nossos trabalhos nos fanzines dos outros, os outros divulgavam nos fanzines da gente e por aí ia. Ainda bem que hoje temos a internet e o nosso trabalho como cartunista pode ser mais visto e apreciado por muitos, nos tempos dos fanzines não conseguiríamos atingir um publico tão grande como esse.

Qual a diferença do Laerçon artista e do Laerçon pai de família?

A diferença é pouca, tudo bem que eu não sou de ficar fazendo piada de tudo a todo o momento, sou um cara batalhador e não meço esforços para estar bem comigo mesmo e com os meus. Tenho os meus momentos de chatice como todo mundo tem, mas nada que dure muito tempo, adoro fazer meus desenhos, curtir um blues, um rock, musica de boa qualidade e vamos levando a vida assim até onde Deus permitir.  

O que te empurrou para  a arte?

Eu sou Libriano, e o meu signo tem tudo a ver com arte, eu gosto disso desde criança, sempre foi muito atirado a escrever a desenhar e tudo mais e no meu tempo de escola a gente era bombardeado por arte de todos os lados e isso também foi um fator fundamental. Comecei tudo com leituras de gibis, do qual sou fascinado até hoje, depois foram os livros, literaturas, cinema, musica, hoje tudo isso ainda faz parte do meu mundo, é uma coisa que eu gosto muito. 


O que o fez excluir o blog “boca suja-  The fanzine”, blog este tão visto e respeitado?

Quem disso que eu exclui o meu blog? Excluíram-me, foi uma das coisas que mais me deixou chateado no ano passado. Sempre que chegava do trabalho tomava um banho e la ia eu atualizar o blog do  Boca suja fanzine, certo dia cheguei digitei a url do blog e apareceu uma mensagem dizendo que o blog havia sido excluído pelo autor! Fiquei pasmo, após varias tentativas não conseguia mais nem ver o blog. Eu mesmo não havia excluído nada. Tentei entrar com minha senha do Google no meu e-mail e só dava como invalida! Perdi tudo, até meu acesso ao Orkut que usava a mesma senha. Fiz um monte de tentativa com o pessoal da Google, mas não consegui nada. Cheguei a conclusão que eu havia sido raqueado, roubaram minha senha e apagaram o meu blog, o motivo eu não sei até hoje, o estranho é que havia acontecido o mesmo com o blog de uma amiga a uma semana antes. Pensei em não fazer mais nenhum blog, mas depois mudei de idéia e fiz o Blog do Laerçon para substituir o blog do Boca Suja fanzine, na verdade eu venho colocando as mesmas coisas do antigo blog que apagaram. 


Quais as dicas que você pode dar pra quem deseja seguir no mundo das charges e tornar-se um artista tão completo quanto Laerçon Blues Man?

Eu não sou artista completo, tenho muito que aprender ainda, mas a única dica que eu dou é que a pessoa tem que ter boa vontade e disposição em tudo o que quiser realizar, querer é tudo, é o verdadeiro ponta pé inicial.
Obrigado pela entrevista meu caro!
  

2 comentários:

  1. Laerçon é um exemplo de pessoa. Não só pelo talento imenso que tem e a facilidade com que escreve, roteiriza, desenha, mas pela integridade de caráter, coisa tão rara neste mundo. Long Live Laerçon!

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